Borgonha se rende à agricultura orgânica, com crescente conversão de vinhedos

O mundo do vinho parece estar se rendendo à agricultura orgânica. E na Europa se encontram os países líderes desta tendência, incluindo as nações de maior produção de vinhos, como Itália, França e Espanha. Porém, a conversão dos vinhedos para cultivo orgânico não é apenas uma questão de quantidade, é também de qualidade. Se Bordeaux mostrou forte avanço nos últimos anos, agora é a Borgonha que não quer ficar para trás.

Devido à sua localização mais ao norte e seu perfil climático mais variável, com muita oscilação entre safras, as técnicas orgânicas foram sempre um motivo de preocupação na Borgonha. Porém, por conta do aquecimento global, parte do questionamento parece ter ficado no passado.

Os dados referentes a 2020 publicados pela organização Orab Bourgogne Franche-Comté mostram isso. Cerca de 17% dos vinhedos da região de Bourgogne Franche-Comté (que inclui, entre outros, a Borgonha e o Jura) estão comprometidos com a agricultura orgânica – já certificada ou em fase de troca – em comparação com uma média nacional de 14%.

Rápido crescimento 

Em apenas um ano, a área de vinhedos cultivada usando técnicas orgânicas aumentou de 4.400 para 5.700 hectares (+28%), de um total de 30.000 ha em toda a Borgonha. Orab descreve o momento como “sem precedentes”. Por exemplo, nos departamentos de Yonne (Chablis) e Nièvre (Pouilly-Fumé e Giennois), as áreas em fase de conversão em 2020 são maiores do que as já certificadas.

O ritmo de crescimento segue acelerado. Em 2020 foram 138 novas conversões de produtores para o cultivo orgânico na região, contra 91 no ano anterior e 48 em 2018. Vale lembrar que a média dos cinco anos anteriores (2013-2017) era de apenas 25 novas conversões anuais, ou seja, os vinhedos orgânicos vêm ganhando espaço muito rapidamente.

Porém, é na Côte d’Or (Côte de Beaune e Côte de Nuits) onde o maior progresso ocorreu. Mais de um quarto da área de vinhedos (26%) já está comprometida com a agricultura orgânica. “E isso será superior a 30% em 2021”, acredita Agnès Boisson, da associação BioBourgogne. Um dado chama a atenção: boa parte das novas conversões diz respeito às propriedades de maior porte, fenômeno que contribui para esse aumento exponencial das áreas de cultivo orgânico.

Condições da safra 2021 devem dificultar o crescimento

Além da maior consciência em relação ao meio ambiente, também questões climáticas influenciaram este rápido crescimento. A safra de 2020 na Borgonha foi marcada por climas amenos, que limitou a pressão parasitária nas videiras. Embora pragas como o oídio estivessem presentes pelo segundo ano consecutivo, o dano na época da colheita foi contido.

Já a safra de 2021 foi muito diferente. Se já não bastassem as perdas referentes à forte geada de abril, as chuvas torrenciais no verão resultaram, em uma forte queda na produção em função da maior umidade e consequente explosão de pragas, como o míldio. Em anos difíceis, aqueles vinhedos que não recebem tratamento de produtos sintéticos acabam sendo mais prejudicados.  

Porém, apesar das dificuldades climáticas, a tendência parece clara. Consumidores, tanto na França como no exterior, parecem cada dia dar mais valor para os vinhos elaborados a partir de vinhedos orgânicos e biodinâmicos. Se no passado a busca por formas de agricultura mais sustentáveis parecia mais restrita a pequenos produtores, hoje ela se tornou também realidade entre os grandes produtores. A tendência de vinhedos mais verdes, portanto, parece um caminho sem volta.

Fontes: Bio en Bourgogne; Vitisphere

Imagem: Peter H via Pixabay

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