Clos de Bèze: um Grand Cru da Borgonha com quase 1.400 anos de tradição

Clos de Bèze não é somente um dos melhores vinhedos da Borgonha, mas também representa um importante marco histórico da região. Embora muita gente associe a criação do Clos de Vougeot, em torno de 1100, como o início da participação ativa das ordens religiosas na Côte d’Or, isso não é verdade. A área onde hoje se situa o Clos de Béze foi doada para a Abadia de Béze em 640 e rapidamente os monges começaram a trabalhar os vinhedos.

Esta abadia, situada ao norte de Dijon e à beira do rio Béze, foi um importante centro religioso durante a Alta Idade Média, embora com uma história turbulenta. Fundada em 629, foi destruída diversas vezes nos três séculos seguintes por invasores que incluem os francos, os normandos e os mouros. Entrou em decadência, o que a levou a vender seus vinhedos, inclusive o Clos de Béze, para o Chapitre de Langres, em 1219.

O vinhedo Clos de Bèze (em vermelho)

Queda e ascensão

O período subsequente foi relativamente obscuro para o vinhedo, que teve diversos viticultores diferentes (o Chapitre arrendava as terras), entrou em declínio e perdeu seus muros, que já não existiam mais no início do século XVI. Esta situação veio a mudar somente em 1627, quando Claude Jomard, um advogado de Dijon, arrendou as terras e passou a cultivar o vinhedo de forma adequada, inclusive recuperando parte dos muros.

Embora Clos de Bèze tenha sido recuperado, nesta época o vinhedo Chambertin já tinha melhor reputação em Gevrey, de forma que o nome Clos de Béze era relativamente pouco usado. Isso foi intensificado no início do século XVIII, quando Claude Jobert gradualmente adquiriu a exploração dos vinhedos Chambertin, e tornou-se o único proprietário não só de Clos de Béze, como das áreas próximas.

Chambertin e Clos de Bèze

Embora façam parte de um único bloco, Clos de Bèze e Chambertin seguiram sendo tratados de forma separada, sobretudo após a pulverização da propriedade dos vinhedos após a Revolução Francesa. Em 1929, quando foi criado um sindicato com os produtores de Gevrey-Chambertin, a parte referente ao Clos de Bèze poderia comercializar seus vinhos como Chambertin, com o anexo Clos de Bèze. Em 1932 o nome Chambertin-Clos de Bèze foi homologado, posteriormente confirmado pelo decreto que criou as denominações de origem na França.

Foi em julho de 1937 que foi oficialmente criada a denominação de origem Chambertin-Clos de Bèze, com o vinhedo recebendo o status de Grand Cru. Porém, a ligação com Chambertin seguiu, ao menos de forma parcial. Vinhos elaborados a partir do vinhedo Clos de Bèze podem ser engarrafados como Chambertin (sem a necessidade de incluir o anexo Clos de Bèze), embora o inverso seja proibido.

A denominação de origem Chambertin-Clos de Bèze tem uma área regulamentada de 14,53 hectares, totalmente dedicados à Pinot Noir (embora a legislação permita que até 15% sejam cultivados com uvas acessórias, como Chardonnay, Pinot Blanc e Pinot Gris, mas isso não é posto em prática). No total, são produzidos em média 540 hectolitros ao ano, o que corresponde a cerca de 72 mil garrafas anualmente.

O vinhedo

Chambertin e Clos de Bèze formam um bloco relativamente homogêneo de 28,3 hectares e altitude média de 280 metros, com solos de calcaire à entroques do período Bajociano, com maior presença de calcário nas partes mais altas. A parte de Clos de Bèze tende a mostrar uma geografia mais acidentada, inclusive com diferentes terraços.

A “família” Chambertin

Clos de Bèze é limitado ao sul pelo climat Chambertin, enquanto a parte oeste faz divisa com a floresta que fica na parte mais alta da encosta e, também, com o vinhedo Premier Cru Bel-Air. A norte estão os também Grand Cru Ruchottes-Chambertin e Mazis-Chambertin, enquanto a leste ficam, na parte logo abaixo da encosta, Chapelle-Chambertin e Griotte-Chambertin. No total, a “família Chambertin” é formada por nove climats distintos.

Vinhos estruturados e elegantes

Seus vinhos são frequentemente comparados com os de Chambertin e disputam o título de melhores vinhos de Gevrey-Chambertin. Por conta de sua maior distância da Combe Grisard, que traz ar frio das Hautes Côtes de Nuits, é uma área ligeiramente mais quente que Chambertin, embora receba mais ar frio da Combe Lavaux. Em relação à composição do solo, por conta do maior aclive, possui uma cobertura mais rasa.

Por conta destas características do terroir, há quem coloque os vinhos de Clos de Bèze em um patamar acima daqueles de Chambertin. São mais elegantes e delicados, com notas florais mais intensas e taninos mais finos. Assim como os vinhos de Chambertin, mostram grande estrutura e profundidade, embora não tenham a mesma capacidade de evolução.

Charles Rousseau, filho do fundador da Domaine Armand Rousseau (uma das poucas vinícolas que produzem vinhos dos dois Grand Cru) explicou a diferença. Para ele, os vinhos de Chambertin são muito bem construídos, talvez com um pouco menos de finesse na juventude, mas evoluem muito bem. Já Clos de Bèze dá origem a vinhos mais complexos, delicados, um estilo mais clássico.

Produtores

Atualmente, há pouco menos de 20 produtores com parcelas em Clos de Bèze. Destes, apenas cinco possuem áreas superiores a um hectare: Pierre Damoy (5,36 hectares), Domaine Drouhin-Laroze (1,54 ha), Domaine Armand Rousseau (1,42 ha), Faiveley (1,452 há) e Domaine Prieuré-Roch (1,01 ha). Outros produtores de destaque com parcelas menores (na ordem de tamanho) são Domaine Bruno Clair, Domaine Jadot, Domaine Duroché, Jacques Prieur e Domaine Dujac.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris; Burgundy Report; The Climats and Lieux-dits of the Great Vineyards of Burgundy, Marie-Hélene Landrieu-Lussigny & Sylvian Pitiot

Mapa: Vins de Bourgogne

Imagens: Arquivo pessoal

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