Conheça o vinhedo Montrachet, origem dos vinhos brancos mais disputados do mundo

Os vinhos da Borgonha são reverenciados ao redor do mundo pela sua qualidade, que coloca esta região francesa possivelmente como a origem dos melhores vinhos do mundo. Mas dentro desta região, alguns vinhedos atingem um patamar quase divino. Se, de um lado, o vinhedo La Romanée Conti é considerado como o principal destaque entre aqueles plantados com a Pinot Noir, de outro, o título de vinhedo mais nobre para uvas brancas tem quase que um consenso: Montrachet.

Este vinhedo, dividido entre os municípios (communes, em francês) de Puligny-Montrachet e Chassagne- Montrachet, tem uma longa história de glórias. Ninguém sabe exatamente quando as encostas de orientação sudeste do Mont Rachet receberam suas primeiras videiras, mas as primeiras referências do vinhedo datam do século XIII, quando foi presenteado para a abadia cisterciense de Mazières. Por séculos, seduziu ricos e poderosos por conta da qualidade de seus vinhos.

Seduzindo gerações de enófilos

Um deles foi o presidente norte-americano Thomas Jefferson, um entusiasta por vinhos de qualidade, que em 1787 colocou os vinhos de Montrachet no mesmo patamar daqueles de Chambertin. Ele também descreveu que os vinhos de Montrachet já na época eram cerca de oito vezes mais caros que os vinhos de Meursault, mais especificamente do vinhedo Goutte d’Or. Jules Lavalle, que publicou em 1855 uma detalhada classificação dos vinhedos da Côte d’Or, considerou uma parcela deste vinhedo (aquela atualmente em Puligny-Montrachet) como Tête de Cuvée – extra. Em poucas palavras, simplesmente o máximo.

Como sinal da excelência deste vinhedo, duas communes da região, Puligny e Chassagne, decidiram adicionar ao seu nome em 1878 o nome de seu vinhedo mais prestigiado, tornando-se, assim, Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet. Este é um caso único na Borgonha, já que as demais adições de nomes de vinhedos contemplaram apenas um município. Com uma tradição tão longa, não causou surpresa que o vinhedo fosse incluído entre os Grand Crus da Borgonha em 1937, o patamar mais alto do sistema de classificação de vinhedos da região.

A “família Montrachet”

Embora seja considerado como o principal vinhedo da Côte de Beaune, Montrachet não foi único vinhedo a adotar este nome. Por conta da fama do nome, diversos vinhedos vizinhos também incluem Montrachet em seus nomes, formando o que ficou conhecido como a “família Montrachet”. Assim como o vinhedo principal, todos eles também são classificados como Grand Cru.

O maior deles é Bâtard-Montrachet, que fica logo abaixo de Montrachet na encosta, e tem Criots-Bâtard-Montrachet a sul e Bienvenues-Bâtard-Montrachet a nordeste. Já na parte superior da colina fica Chevalier-Montrachet, possivelmente aquele mais bem avaliado dentro todos os outros membros da “família”.

O vinhedo

Mas o que torna Montrachet tão especial? Assim como os principais vinhedos da Côte d’Or, ele fica na parte central da colina, com inclinação suave. Porém, Montrachet tem algo a mais. Ele fica exatamente em cima de uma falha geológica, que permite que seu solo apresente características distintas. Segundo o geólogo James Wilson, ele combina as melhores características dos solos da Côte de Nuits com os da Côte de Beaune. São solos ricos em calcário, com excelente drenagem, ideal para as videiras.

O vinhedo Montrachet, tendo ao fundo Chevalier-Montrachet

Montrachet, com cerca de 8 hectares de extensão plantados inteiramente com Chardonnay, é dividido de forma praticamente igual entre as duas communes. Puligny-Montrachet, que domina boa parte da colina de Mont Rachet, ficou com 4,01 hectares. Já Chassagne-Montrachet manteve os demais 3,99 hectares e, nesta parte, o vinhedo é também conhecido como Le Montrachet.

Seus vinhos

O que dizer dos vinhos elaborados a partir de Montrachet?  Para muitos críticos, a parte de Chassagne dá origens a vinhos com mais opulência, enquanto os de Puligny primam mais pela elegância. No entanto, há quase uma unanimidade indicando que estes vinhos ficam entre os melhores do mundo. São Chardonnays que combinam potência e elegância, estrutura de boca e alta acidez, complexidade e grande capacidade de evolução.

São vinhos complexos e de altíssima qualidade. Jasper Morris, Master of Wine e possivelmente o mais reconhecido especialista em vinhos da Borgonha do mundo, assume uma posição humilde ao descrever estes vinhos. Para ele, “é difícil encontrar as palavras para descrever o gosto de um Montrachet”, até por conta da majestade que estes vinhos representam.  

Diversos proprietários

Atualmente, os oito hectares de Montrachet são divididos entre 16 proprietários distintos, embora um deles não produza vinhos com rótulo próprio. Há também négociants que produzem pequenas quantidades deste Grand Cru, adquirindo uvas dos proprietários originais. A maior parcela de Montrachet está nas mãos da Marquis de Laguiche, proprietária de mais de dois hectares compondo toda a fração norte do vinhedo.

O segundo maior proprietário é a Domaine Thénard, com quase dois hectares, seguida pela Bouchard Père et Fills, com pouco menos de um hectare. Com parcelas menores se encontram alguns dos produtores de maior prestígio da Borgonha, liderados pela Domaine de la Romanée Conti. Destaque também para Jacques Prieur, Domaine des Comtes Lafon, Domaine Ramonet, Marc Colin e Domaine Leflaive.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris; Burgundy Report; Terroir: The Role of Geology, Climate and Culture in the Making of French Wines, James Wilson

Mapa: Vins de Bourgogne

Imagens: Arquivo pessoal

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