Custo benefício na Borgonha: conheça Monthelie e seus vinhos

Uma das tarefas mais complicadas na Borgonha, sobretudo na Côte d’Or, é a busca por vinhos de custo acessível, daqueles que não atingem valores que quase inviabilizam seu consumo. Porém, algumas denominações de origem podem apresentar boas opções neste sentido. Uma delas é Monthélie, com vinhedos ao redor de um vilarejo conhecido também por ser um dos menores da Côte de Beaune, com apenas 3,1 quilômetros quadrados de área.

Antes de mais nada: Monthelie tem acento ou não? Embora a denominação de origem tenha sido registrada com o acento no primeiro “e”, os moradores e produtores locais preferem usar a forma sem acento. Embora a pronúncia mais usada seja algo como “Mont’li“, para menções escritas ao vilarejo é “mais prudente” usar Monthelie, com o acento sendo usado no caso de descrever a denominação de origem.

Monthelie, até refletindo sua proximidade com Volnay e Meursault, produz tanto vinhos tintos como brancos. Porém, os tintos se destacam. Embora sua produção venha crescendo de forma relativa nos últimos anos, os vinhos brancos representam apenas 15% do total.

Uma longa história

Apesar de seu pequeno porte, Monthelie tem uma longa ligação com a produção de vinhos. Sua primeira menção aparece em 855 DC, como Monthelio, e em 1078 o vilarejo e suas áreas próximas foram doadas pelo Duque Hughes I para a abadia de Cluny. Os monges cultivaram os vinhedos por séculos, mas em 1523 as terras já apareciam como propriedade do rei da França em 1523.

Uma escolha no século XIX, porém, abalou a reputação de Monthelie e pode ajudar a explicar ao menos uma parte da discrepância de preços com regiões vizinhas. Nesta época, as terras de Monthelie eram em grande parte plantadas com Gamay, o que fez que seus principais vinhedos fossem praticamente ignorados nas classificações da época. Porém, isso mudou gradualmente e não impediu que a denominação de origem Monthélie fosse criada em 1937.

Uvas e vinhos

Atualmente a denominação de origem Monthélie tem uma área demarcada de 139,94 hectares, dos quais 41,25 hectares (32%) classificados como Premier Cru. Cerca de 90% da área demarcada está atualmente em produção (127,8 hectares), com destaque para a Pinot Noir, que concentra 86% dos vinhedos em atividade. Os demais 14% são plantados com Chardonnay.

A produção média entre 2014 e 2018 foi de 4.782 hectolitros, que correspondeu a apenas 2% do total da Côte de Beaune no mesmo período. Desta produção, cerca de 29% foram classificados como Premier Cru.

Em termos de estilo, os tintos são vistos, sobretudo aqueles elaborados a partir dos vinhedos próximos a Volnay, como mostrando características similares aos vizinhos. Chamados por alguns de Baby Volnay, porém, em geral, não demonstram a mesma complexidade e qualidade de taninos. Já os brancos lembram aqueles de Meursault, porém mais leves e com menor estrutura.  

Geologia e vinhedos

Ao contrário dos vinhedos de diversas denominações origem da Côte d’Or, que tem a grande maioria dos vinhedos com orientação sudeste ou sudoeste, Monthélie apresenta uma diversidade maior, até por conta de sua geografia. Os vinhedos estão espalhados por uma área que lembra uma ferradura, com uma parte próxima à Volnay e a outra composta pela Combe Danay, limitada pela Montagne de Bourdon. Esta colina, que até lembra a de Corton, faz a divisão entre Monthélie e Auxey-Duresses.

Seus vinhedos podem ser divididos basicamente entre três grupos. A oeste ficam aqueles que fazem limite com Volnay, incluindo alguns de seus melhores Premiers Crus (em laranja escuro no mapa acima). A norte do vilarejo e no centro do vale criado pela  Combe Danay fica a maioria dos vinhedos Village, enquanto nas encostas da Montagne de Bourdon se situam vários climats classificados como Village, mas também dois Premier Cru.

Principais destaques

Dos 15 vinhedos classificados como Premier Cru de Monthélie, 13 ficam na área próxima a Volnay. Nesta região, a Pinot Noir reina quase absoluta. Destaque para dois vinhedos que são praticamente uma continuação do famoso vinhedo de Volnay, Clos de Chênes: Sur La Velle e Les Champs Fulliot. Outro vinhedo que chama a atenção é Les Riottes, já mais próximo do vilarejo e que é origem de alguns dos melhores tintos de Monthélie.

Já na direção de Auxey-Duresses, o vinhedo mais bem avaliado é a parte classificada como Premier Cru do climat Les Duresses. Até 2006 ele era o único Premier Cru desta parte de Monthélie, mas em 2006 ganhou a companhia de Les Clos. Em ambos os casos, a parte superior dos vinhedos (classificada como Village) é composta por solos mais leves. Estas condições favorecem o cultivo também da Chardonnay, como no vinhedo vizinho (La Goulotte) que aparece com um dos melhores vinhedos Village para vinhos brancos na denominação de origem.

Produtores em evidência

Até pelo seu menor porte, o vilarejo de Monthelie não concentra uma grande quantidade de produtores. Deste modo, é comum encontrar vinhos desta denominação de origem elaborados por négociants ou produtores sediados em vilarejos próximos. Entre eles, alguns chamam a atenção, como Bouchard Père et Fils, Louis Jadot, Faiveley, Domaine des Comtes Lafon, De Montille e Domaine Mikulsky.

Já entre os produtores baseados em Monthelie, os principais destaques ficam com Domaine Darviot-Perrin, Domaine Eric de Suremain, Domaine Dourhairet-Porcheret e Domaine Dujardin.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scolar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris

Mapa: Vins de Bourgogne

Imagem: Arquivo pessoal

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