Da ficção à realidade: a curiosa relação entre um vilarejo da Borgonha, Jules Verne e a Lua

Vinhos são elaborados e consumidos nos quatro cantos da Terra, mas a experiência de vinhos no espaço ainda é limitada ao armazenamento de algumas garrafas de Bordeaux na estação espacial. Isso não impede, porém, que o vinho já tenha chegado à Lua, ao menos na fantasia de um dos mais conhecidos autores de ficção científica que o mundo já viu, o francês Jules Verne.

Em seu livro Autour de La Lune, escrito em 1870, três homens fizeram uma viagem à Lua e celebraram sua conquista de uma forma especial. Em sua estadia no nosso satélite natural, abriram uma garrafa de Nuits-Saint-Georges, já na época reconhecido com um dos melhores vinhos do mundo. E esta relação ficcional entre a Lua e os vinhos deste vilarejo da Borgonha acabou tomando dimensões reais, envolvendo astronautas, a NASA e grupos de produtores e degustadores de Nuits-Saint-Georges.

Astronautas e as missões Apollo

Como forma de homenagear o romancista francês, a relação entre Nuits-Saint-Georges e a Lua foi se estreitando. Após visitar o centro aeronáutico em Le Bourget, a tripulação da missão Apollo 9 (James Divitt, David Scott e Russell Schweikart), foi induzida na Confrèrie des Chevaliers du Tastevin, em 30 de maio de 1969. No dia seguinte, novamente no vilarejo da Borgonha, a festa seguiu com um barril de Nuits-Saint-Georges reecebendo o nome de Cuvée Terre-Lune 1969.

Dois anos depois, em maio de 1971, a tripulação da missão Apollo 15 (David Scott, Alfred Worden e James Irwin), passou por Clos de Vougeot, onde foram presenteados com seis garrafas de Nuits-Saint-Georges Cuvée Terre-Lune 1969. A esperança era que uma destas garrafas pudesse ser levada para a Lua.

Uma cratera chamada Saint-Georges

Na impossibilidade levar uma garrafa de vinho à Lua, a NASA decidiu prestar uma homenagem diferente. Em 25 de julho de 1971, a prefeitura de Nuits-Saint-Georges recebeu um telegrama do Cabo Kennedy, dizendo que David Scott e James Irwin gostariam de chamar uma das crateras lunares, próximo de onde pousaram em 31 de maio de 1971, de Saint-Georges, em homenagem ao livro de Verne e, consequentemente, ao vilarejo.

A biografia destes astronautas traz uma passagem divertida sobre a escolha do nome. Antes da missão, tanto os astronautas como os geólogos e técnicos da NASA discutiam a composição geológica da região que visitariam na Lua. Em uma das discussões sobre a missão Apollo 15, Jack Smith, geólogo que posteriormente visitaria a Lua na missão Apollo 17, lançou um desafio. Ele apostou uma garrafa de vinho sobre a definição do perfil de solo de uma determinada área do satélite. Foi quando os demais astronautas passaram a considerar de nomear uma cratera como Saint-Georges.

Existe uma versão, não confirmada na biografia dos astronautas, de que haveria a intenção de que, na impossibilidade de deixar uma garrafa, ao menos um rótulo do vinho fosse colocado na cratera lunar. Porém, em função das dificuldades do terreno, os astronautas não teriam conseguido chegar ao destino. De qualquer forma, a relação entre a Lua e Nuits-Saint-Georges segue até hoje, com uma praça chamada Place du Cratère-Saint-Georges, praticamente no centro do vilarejo. E, quem sabe, no futuro, com a repetição, desta vez como realidade, do brinde lunar sonhado por Jules Verne.

Fontes: On the Moon – The Apollo Journals, Grant HeikenEric Jones; Vinun et Vita

Imagem: István Mihály via Pixabay

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