Diversão, modinha ou jogada comercial? Le Beaujolais Nouveau est arrivé!

Quinta-feira, terceira semana de novembro. Exatamente neste dia, mais precisamente a partir das 12h01 horário de Paris, começa uma das grandes festas do vinho. Le Beaujolais Nouveau est arrivé! é uma expressão criada na década de 1980, que pode ser traduzida como o Novo Beaujolais chegou!  

Para quem não conhece, Beaujolais é uma região que fica ao sul dos mais disputados vinhedos da Borgonha, mas, que ao contrário da Côte D’Or, foca na produção de vinhos tintos feitos a partir da uva Gamay. Já o Nouveau da expressão vem do fato de que estamos falando de um vinho muito novo, da última safra colhida, ou seja, se passaram apenas dois a três meses entre as uvas ainda estarem nos vinhedos e o vinho na sua mesa.

Um fenômeno de marketing

Até 1951, os vinhos do Beaujolais não podiam ser comercializados até 15 de dezembro do ano de sua safra. A partir de então, porém, o dia 15 de novembro passou a ser data de início da comercialização, algo que mudou para a terceira quinta feira de novembro a partir da década de 1980. Porém, não foi por isso que o Beaujolais Nouveau ficou mundialmente conhecido.

Na década de 1970, o empresário Georges Duboeuf, um grande produtor da região de Beaujolais, decidiu promover e divulgar o vinho e as festividades associadas de forma muito mais agressiva. Cartazes proclamando “Le Beaujolais Nouveau est arrivé!” tornaram-se comuns, e a corrida de Beaujolais para Paris atraiu uma cobertura crescente da mídia a cada ano. Gradualmente, muitas pessoas ao redor do mundo também adquiririam gosto pelo vinho.

Mas o que seria esta corrida? Em primeiro lugar, é a primeira oportunidade de beber um vinho da safra mais recente. Ao contrário de muitos outros vinhos franceses, este Gamay pode ser consumido quase que imediatamente após a colheita. É um vinho simples, frutado e barato e, por conta desta combinação, é procurado por muita gente para um consumo despretensioso e festivo.

Crescimento e internacionalização

A festa do Beaujolais Nouveau pode ser considerada uma das grandes jogadas de marketing da história do vinho. Quando de sua criação, a região de Beaujolais sofria com a reputação de fazer vinhos baratos e de baixa qualidade (sempre com exceções, porém). A forma mais fácil de vender os vinhos, desta forma, passou por uma certa aceitação deste conceito, porém transformando o seu consumo em uma festa.

Após ter explodido na França, o consumo do Beaujolais Nouveau também cresceu rapidamente em muitas partes do mundo. Por exemplo, no Japão, durante as décadas de 1980 e 1990, até 12 milhões de garrafas foram vendidas em um ano. O apelo do mercado externo era tão grande que a data de lançamento passou para a terceira semana de novembro, “coincidentemente” uma semana antes do feriado de Thanksgiving nos Estados Unidos. Vale lembrar que peru e um Gamay leve e frutado fazem uma ótima harmonização.

Declínio nas últimas décadas

Nas últimas décadas, porém, a festa perdeu bastante do seu brilho, por dois motivos principais. O primeiro é simples de explicar, já que a moda e a novidade de beber este vinho tão fresco passaram. Apesar da rápida queda no consumo, porém, o Beaujolais Nouveau ainda consegue emplacar boas vendas não somente na França, mas também em países como Japão, Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha.

A segunda razão diz respeito à atitude dos próprios produtores. Se no passado a reputação da região de Beaujolais era a de vinhos simples e de rápido consumo, isso mudou. Por conta do trabalho de diversos produtores, sobretudo da famosa “Gangue dos Quatro”, muitos vinhos do Beaujolais, sobretudo seus Crus, passaram a ser reconhecidos pela sua qualidade. E para muitos produtores, o foco em quantidade e frescor foi para segundo plano, com mais atenção sendo dada à qualidade.

Uma experiência divertida

Mas será que vale a pena provar? E o que esperar destes vinhos? Embora seu consumo tenha sido impulsionado por uma bem-sucedida estratégia de marketing e pela “modinha” que se seguiu, não há por que não provar. São vinhos simples, mais rústicos e muito básicos, sem complexidade ou potencial de guarda. Mas, com seus aromas de tutti-frutti e banana verde, são frescos e matam a sede, sobretudo quando servidos um pouco mais frios.    

É um vinho despretensioso e simples, que deve ser bebido em um ambiente descontraído com amigos e família. Portanto, nada de guardar na adega ou presentear os amigos, ele serve mais para matar a sede e ajudar a tornar festas e eventos mais leves e divertidos. Se no mundo é um vinho barato, infelizmente no Brasil, por conta de nossa carga tributária absurda, isso não ocorre. Por conta disso, talvez vale para quem conhecer, mas certamente não é do tipo de vinho que mostra uma boa relação entre custo e benefício por aqui.

Fontes: Forbes, Smithsonian Magazine; A História do Vinho, Hugh Johnson

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