Mais uma contribuição do Império Romano: conheça a origem da produção de vinhos na Borgonha

A história da Borgonha é intimamente ligada com a história de seus vinhos, sobretudo a partir dos tempos do Império Romano. Porém, mesmo antes que os romanos invadissem a Gália, os éduos, tribo celta que ocupava o que é hoje a Borgonha, já eram ávidos consumidores de vinho.

Em Bibracte, uma cidade então com cerca de 30 mil habitantes e sua capital antes da conquista romana, escavações arqueológicas mostraram que o vinho era consumido em larga escala. Evidências descobertas por arqueólogos revelaram os restos de centenas de milhares de ânforas trazidas da Itália e datadas do segundo ou primeiro século a.C. Elas fornecem provas de um fluxo importante de comércio significativo de vinho entre Roma e Gália.

Produção a partir da conquista romana

No entanto, até hoje não existem evidências que provem a produção de vinho na Borgonha antes dos romanos. Vale lembrar, porém, que mesmo antes da invasão romana, vinhos eram elaborados em outras partes da França. Evidências arqueológicas permitiram aos pesquisadores afirmar que existia vinificação local no Mediterrâneo francês, pelo menos a partir do século V antes de Cristo. Em regiões como Lattara e possivelmente também em Massalia (atual Marselha), já era elaborado vinho local.

Mas o cenário na Borgonha mudou depois da conquista romana. Em 52 a.C., os romanos derrotaram as tropas do líder gaulês Vercingetorix em Alesia (que fica a cerca de 50 quilômetros de Dijon, na Borgonha) e em seguida construíram a cidade de Autun. Bibracte foi abandonada e a nova cidade romana prosperou, com os novos habitantes plantando videiras durante os dois séculos seguintes.

Especificamente na Borgonha, as primeiras evidências indicam vinhedos da época romana localizados na região onde atualmente fica Gevrey-Chambertin. Os possíveis vinhedos, onde foram encontradas cerâmicas datadas do primeiro século a.C., foram encontrados acidentalmente em 2009. O alinhamento e a forma retangular das ruínas são semelhantes aos encontrados nos locais de outros vinhedos galo-romanos descobertos no sul da França, na região ao redor de Paris e no Reino Unido.

As primeiras menções

A presença de vinhedos na Borgonha foi mencionada em obras romanas da época, como nos textos de Virgílio e Plinio, que se referem aos vinhos de Autun. Em sua obra mais conhecida, o maior escritor de tratados de agronomia da época, Columella, descreve detalhadamente uma uva que, do ponto de vista ampelográfico, corresponderia à Pinot Noir.  

No entanto, a primeira menção em documentos oficiais de produção de vinhos na atual Borgonha veio quase 400 anos depois. Foi em 312 d.C. que Eumenes, um célebre orador e reitor da principal escola de Autun, mencionou o vinho em um discurso dedicado à glória do Imperador Constantino. Este texto é o primeiro registro escrito da existência de vinhedos extensos na região da Borgonha.

Mais do que descrever vinhedos, o texto menciona uma petição enviada ao Imperador Constantino, partindo dos proprietários de videiras em Autun. Eles solicitaram o pagamento de impostos mais baixos, por conta da má qualidade de suas videiras. Pode soar até irônico que uma região hoje tão famosa por conta de seus vinhos tivesse sua primeira menção oficial desta forma. Mas nada que o tempo não pudesse mudar, sobretudo pelo trabalho realizado nos vinhedos da Borgonha nos séculos seguintes, principalmente pelas ordens religiosas.

Fontes: Beginning of viniculture in France, McGovern et al; A História do Vinho, Hugh Johnson; Vins de Bourgogne; Burgundy Wine Has Long History In France: Remains Of Gallo-Roman Vineyard Discovered In Gevrey-Chambertin; Burgundy Report

Imagem: Tristan Nitot via Creative Commons

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