O Imperador Carlos Magno e o vinho da Borgonha

A Borgonha brinda o mundo com alguns dos melhores vinhos do planeta. Tintos e brancos de grande fineza e caráter, os primeiros elaborados com a uva Pinot Noir, os seguintes, com a Chardonnay.

Situada bem no coração da França, não se sabe ao certo quem introduziu na região a vinha, mas podemos afirmar que os invasores romanos já a encontraram ali quando chegaram, por volta do século II d. C. Os povos celtas que a habitavam já cultivavam a vinha nessa época, tendo sido fundamental, posteriormente, a influência romana para que se produzisse bons vinhos na região.

As invasões bárbaras e os monges

Com a desintegração do Império Romano, a região foi tomada por uma série de povos bárbaros vindos do norte. Sucessivamente Francos, Alamanos e Vândalos invadiram a região, chegando depois os Burgúndios. Este povo originário da Escandinávia ali se fixou e emprestou seu nome a essas terras, formando um grande reino, que se estenderia de Dijon a Lyon.

Mais tarde, com a conversão da população local ao cristianismo, coube à Igreja, principalmente aos monges beneditinos de Cluny, cuidar com carinho da manutenção dos vinhedos e da produção do vinho. Resumindo bastante a história, o vinho da Borgonha chega aos nossos dias como um dos dois vinhos mais prestigiados da França (quiçá do mundo), dividindo as preferências com os vinhos de Bordeaux.

Espalhados de norte a sul pela Côte d’Or, vinhedos notáveis se sucedem. Fixin, Gevrey-Chambertin, Morey-Saint-Denis, Vougeot, Aloxe Corton, Meursault, Ladoix, Beaune, para citarmos apenas alguns ícones. No limite entre a Côte de Beaune e a Côte de Nuits, no alto da colina de Corton, vamos encontrar as vinhas de Corton-Charlemagne.

A origem do nome

Os livros de história nos explicam o fato de encontrarmos o nome de Carlos Magno, esse magnífico imperador que surpreendeu a todos por sua formação, cultura (era alfabetizado e falava vários idiomas, caso raro na época), além de outras qualidades políticas e seu amor ao vinho.

Tal vinhedo fora doado, no ano de 775, à Igreja Colegiada de Saint-Adoche, em Saulieu, pelo imperador, e assim permaneceram no patrimônio da Igreja Colegiada por séculos. Reza a lenda que o vinhedo pertencia a Liugard, esposa do imperador.

Vinhos brancos ou tintos?

Existe uma interessante versão para a escolha da uva predominante na região. Dono de longa e abundante barba branca, o imperador costumava beber vinhos tintos, o que fazia com que sua barba estivesse sempre manchada. A imperatriz, zelosa com a aparência do marido, sugeriu-lhe que passasse a beber apenas vinhos brancos.

E tal, segundo esta versão, foi feito. Carlos Magno ordenou que se replantasse parte importante do vinhedo com a uva Chardonnay, dando início assim à legendária fama do Grand Cru Corton-Charlemagne. Esse vinho formidável tem como características a cor dourada-clara com reflexos verdes, aromas primários de frutas (maçã, abacaxi, cítricos), notas florais e minerais. Aromas mais evoluídos de mel, cogumelo, canela e trufas brancas também estão presentes. As melhores safras podem ser guardadas por até 20 anos.

Aguardo ansioso a queda da cotação do euro para poder voltar a degustá-lo…

Aguinaldo é escritor,  palestrante e crítico de vinhos. Formado tutor pela École du Vin de Bordeaux, já participou como jurado dos principais concursos internacionais. É diretor do site www.degustadoresemfronteiras.com.br, através do qual organiza viagens de Enoturismo por todo o mundo.

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Imagem e foto: Aguinaldo Zackia Albert, arquivo pessoal

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