Pioneirismo: Champagne será a primeira denominação de origem importante da França a permitir uvas híbridas

Pinot Noir, Chardonnay e Pinot Meunier são uvas familiares para quem aprecia uma boa taça de Champagne. Afinal de contas, elas correspondem a 99,7% dos vinhedos da Champagne e são as variedades mais usadas na elaboração dos mais desejados espumantes do mundo. Porém, este seleto clube pode ganhar ao menos mais um membro, já que foi aprovada legislação permitindo que a variedade Voltis seja usada.

Voltis? Você deve estar se perguntando que uva é esta, cujo nome lembra mais o nome de um carro elétrico ou de alguma start-up de energia alternativa. Voltis é uma uva híbrida, ou PIWI, como as híbridas são chamadas atualmente. São variedades que resultam de cruzamentos nos quais ao menos uma pequena parcela dos ancestrais não pertence à espécie Vitis vinifera.

Uva aprovada

Em meados de fevereiro, o Instituto Nacional de Origem e Qualidade (INAO) francês validou o pedido do Comité interprofessionnel du Vin de Champagne (CIVC) no sentido da utilização da Voltis nos cortes de espumantes elaborados na Champagne. A partir de agora, essa uva híbrida poderá ser utilizada dentro do limite máximo de 5% da área plantada e de 10% do blend, em um período preliminar de cinco anos.

Esta uva branca já havia sido aprovada pelo CIVC em 2021, mas necessitava de confirmação por parte do INAO, pelo fato de a Champagne ser uma denominação de origem (aliás uma das mais importantes da França). O uso de PIWIs já era permitido em regiões com indicação geográfica (uma classificação menos restritiva) na União Europeia (UE) a partir de 2019.

Todavia, esta será a primeira vez que uma denominação de origem de grande destaque dá o direito de incluir uma variedade híbrida em seus cortes, sem que eles percam a classificação de origem controlada. Até agora, a única exceção era na denominação Armagnac AOC, que pode usar a híbrida Baco no corte, para elaborar seus destilados. Vale lembrar que, a partir de 2023, o uso de PIWIs deve ser liberado de forma geral para denominações de origem na EU, sempre sujeitas aos regulamentos de cada conselho regulador.

Motivação e quebra de paradigmas

A principal motivação para o uso da Voltis e de outras PIWIs é relativamente simples. Fruto do cruzamento de diversas variedades, entre elas a Villaris (também uma híbrida), a Voltis tem resistência total a várias doenças fúngicas, como míldio e oídio. Esta capacidade vem da presença de material genético de uma espécie de uva americana, a Vitis rotundifolia. As PIWIs, sobretudo aquelas da terceira geração, vêm ganhando atenção cada dia maior dos viticultores europeus, principalmente daqueles situados em regiões mais frias e úmidas.

Por conta de sua resistência doenças fúngicas, as PIWIs praticamente eliminam a necessidade de aplicação de fungicidas, com enome ganho do ponto de vista ecológico. “A Voltis é uma das respostas para a importante questão da convivência entre moradores e produtores. Mas vai além da zona de não tratamento, e também leva em conta a evolução das práticas e do consumo”, explicou Maxime Toubart, co-presidente do CIVC e presidente do Sindicat Général des Vignerons (SGV). 

E esta verdadeira revolução nos vinhedos de algumas das principais regiões viníferas europeias pode aumentar de escala. Já no próximo mês de março, o Conselho Interprofissional de Vinhos de Bordeaux (CIVB) deve votar a possível inclusão de PIWIs dentre as uvas de cultivo permitido na região, dando sequência a uma série de medidas no sentido de modernizar os vinhedos de Bordeaux.

Fontes: CIVC; Vitisphere; WineNews; Plantgrape

Imagem: Alexander Naglestad via Unsplash

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