Reis, celebridades e ostentação: conheça a história do Champagne que seduz os milionários

Poucos vinhos no mundo aparecerem tão frequentemente associados a ricos e famosos como os Champagnes. Mesmo dentre os Champagnes mais caros e exclusivos, porém, existem aqueles intimamente ligados com a riqueza e o poder. E o Cristal, produzido pela Louis Roederer a partir de vinhedos selecionados, talvez seja aquele com a história mais fascinante.

A história desta cuvée é longa e envolve imperadores, reis, rappers, celebridades de todas as espécies, combinando, curiosamente, tanto a aristocracia como as mais espalhafatosas versões de novos ricos que você pode imaginar. Mais de que um vinho para ser consumido, acabou se transformando, para muita gente, em um símbolo de ostentação e poder.

Um jantar especial

A inspiração para sua criação possivelmente surgiu em um jantar muito especial. Em 7 de junho de 1867, o rei da Prussia, Wilhelm I (que posteriormente seria o primeiro imperador da Alemanha unificada), organizou um extravagante encontro em Paris. Os principais convidados eram o czar da Russia, Alexandre II, e o príncipe Otto von Bismarck.

O banquete incluiu 16 pratos, com oito vinhos servidos ao longo de oito horas. Entre os vinhos tintos, destaque para clássicos do Bordeaux e da Borgonha, como Château Latour, Château Margaux, Château Laffite e Chambertin. Não poderiam faltar também um Château d’Yquem e um Champagne. No caso das bolhas, o produtor escolhido foi Louis Roederer, que decidiu mandar uma cuvée da safra 1847, servida em garrafas de cristal transparente. Aparentemente, o objetivo era impressionar o czar, já ávido consumidor de Champagnes na época.  

O Champagne do czar

O próximo capítulo viria anos depois. A Cristal teria surgido a pedido de Alexandre II, em 1876. O czar russo já era fã particular das criações de Louis Roederer. Ele teria contatado a Maison e solicitado a criação de um Champanhe especial, para seu consumo pessoal. Em poucas palavras, um Champanhe que representaria o auge em termos de qualidade.

Louis Roederer estava em posição única para ser capaz de realizar este desejo. Ao contrário de outras casas da Champanhe, que compravam a maioria de suas uvas de diversos pequenos produtores, Louis Roederer havia adquirido vinhedos próprios na década de 1830. Assim, tinha controle total sobre o cultivo das videiras e sabia exatamente quais parcelas consistentemente forneciam uvas de melhor qualidade.

E o czar teria feito algumas “sugestões”. Assim como as garrafas do jantar de 1867, este Champagne deveria ser envasado em garrafas transparentes, até para reduzir potenciais riscos de inclusão de venenos ou outras substâncias. Vale lembrar que seis dos últimos doze czares haviam sido assassinados, destino também reservado ao próprio Alexander II, porém em 1881. Também por conta disso, as garrafas teriam fundo plano, sem a tradicional cavidade na parte inferior, que poderia ser usada para esconder pequenas bombas ou outros adereços.

Fim da exclusividade e consumo global

A Cristal seguiu sendo produzida exclusivamente para os czares até 1917, quando a Revolução Russa derrubou a dinastia dos Romanov, culminando com a execução do neto de Alexandre II, Nicolau II, e sua família pelos bolcheviques. Porém, mesmo sem seu cliente real, a Louis Roederer seguiu produzindo a cuvée para consumo restrito, com seu lançamento comercial sendo apenas em 1945.

Não há como discutir que não seja um Champagne de alta qualidade. Geralmente é um corte de 60% Pinot Noir e 40% Chardonnay, elaborado a partir de vinhas velhas (algumas com mais de 60 anos) de 45 parcelas diferentes situadas em sete Grands Crus na região de Champagne. É sempre safrada e lançada apenas nas melhores colheitas. Antes de ser comercializada, é envelhecida por seis anos com suas lias na adega da vinícola, com mais oito meses de guarda depois do dégorgment.

E estes cuidados, aliados a uma bem-sucedida estratégia de marketing, levou este Champagne a uma posição quase icônica. Políticos, atores e atrizes de Hollywood, esportistas e outras celebridades passaram a associar sua imagem ou brindar momentos especiais com Cristal. Para muita gente, ela se tornou uma espécie de sinônimo de sucesso.

Controvérsias  

Mas esta relação com celebridades também é cercada de controvérsias. Talvez o caso mais famoso seja o da rapper norte-americano Jay-Z. No início da década de 2000, ele e outros rappers e artistas de hip-hop passaram a ser consumidores frequentes e diversas vezes postavam fotos com várias garrafas, inclusive mencionando Cristal em algumas de suas letras.

E esta “associação de marcas e estilos” gerou questionamentos. Em uma entrevista à publicação The Economist em 2005, o diretor geral da Roederer, Frédéric Rouzaud, disse que via a associação entre Cristal e o rap como “curiosidade e serenidade”. Perguntado se achava que a associação prejudicaria a marca, ele respondeu: “Essa é uma boa pergunta, mas o que podemos fazer? Não podemos proibir as pessoas de comprá-lo. Tenho certeza que Dom Pérignon ou Krug ficariam encantados em ter seus negócios”.

Esta entrevista levou a uma rápida reação da comunidade do rap nos Estados Unidos. Jay-Z acusou a empresa de racista e inicialmente migrou seu consumo para Dom Pérignon e Krug, para posteriormente lançar sua marca própria de Champagne, a Armand de Brignac, em 2006. Curiosamente, esta marca ganhou forte penetração em bares e night clubs e teve 50% de seu capital vendido, pelo próprio Jay-Z, para a gigante francesa LVMH em 2021.

Rico ou novo rico?

Também no Brasil, a Cristal teve sua marca associada com as colunas sociais. Em 2013 o empresário Alexander Augusto de Almeida se tornou figura pública, ao aparecer na capa de uma publicação semanal como o “Rei do Camarote”. Se era fotografado com roupas de marca, Ferraris e outros artigos de luxo, não faltaram também imagens de Alexander celebrando suas baladas com garrafas de Cristal.

Vale lembrar que uma garrafa de Cristal custa atualmente cerca de R$ 3.300 no Brasil, o que faz qualquer celebração com este Champagne ser algo para poucos. Independentemente de como e com quem a marca é associada, porém, algo não se pode negar: Cristal segue sendo associada a dinheiro e poder, em uma longa história que passa por todos os perfis de pessoas financeiramente bem-sucedidas.

Fontes: Louis Roederer; Financial Times; Forbes; Decanter; Wine Folly

Imagem: Louis Roederer

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