Segmentando os vinhos mais exclusivos do mundo: conheça a classificação da Borgonha

Os vinhos da Borgonha certamente ficam entre os mais desejados do mundo. Esta região, onde a Pinot Noir e Chardonnay são as principais estrelas, é responsável por apenas 3% dos vinhos produzidos na França e tem seu foco principal na qualidade. É de longe a região do mundo com vinhedos mais bem qualificados e mapeados, contando com 84 denominações de origem distintas. Isso representa cerca de 23% do total de denominações de origem da França.

Por conta disso, os rótulos dos vinhos da Borgonha podem trazer muita informação ao apreciador de bons vinhos. Estas 84 denominações de origem (chamadas de AOC na França) mostram características próprias e terroirs distintos. E isso vai mais além, já que muitas delas são também subdivididas em climats ou indicações geográficas. Para entender melhor tanta informação, é fundamental saber como funciona o sistema de classificação de vinhos da Borgonha.    

Quatro níveis hierárquicos

De forma geral, as AOCs da Borgonha podem ser divididas em quatro níveis, considerando uma escala de hierarquia. Seria uma espécie de pirâmide, que começa na base com as denominações mais amplas e de exigências mais flexíveis (normalmente resultando em vinhos mais simples e de menor custo) e que progride até o topo, com terroirs e vinhos mais exclusivos.

Esta escala leva em consideração duas características principais. De um lado, toma em conta a qualidade dos vinhedos. Eles podem ser classificados de três formas distintas: Gran Cru (considerados superiores), Premier Cru (também de ótima qualidade) e os demais, que não receberam classificação específica. A segunda característica é quão específica é a região.

Nos dois degraus do topo da pirâmide, composta pelos Gran Cru e Premier Cru, a classificação foca nos vinhos elaborados a partir de vinhedos específicos, com uma hierarquia baseada na qualidade destes vinhedos. São mais de 670 vinhedos classificados nestas duas categorias, representando pouco mais de 11% da produção de vinhos da Borgonha.

Se a qualidade dos vinhedos determina o topo da pirâmide, nos dois degraus mais baixos a classificação se baseia na localização. Assim, o terceiro degrau de cima para baixo corresponde aos Villages, produzidos em um município específico (por exemplo, Mercurey ou Pouilly Fuissé). A base da pirâmide, por sua vez, considera o que os borgonheses chamam de Apellations Régionales, incluindo vinhos elaborados em uma área mais ampla que um vinhedo ou município, ou seja, uma região.

Denominações regionais

Funcionando como a base da pirâmide geral da Borgonha, as denominações regionais correspondem a cerca de 52% da produção total de vinhos da região. As uvas brancas predominam (além da Chardonnay, a Aligoté também tem um volume significativo), com cerca de 70% do total. Estas uvas são usadas tanto para a produção de vinhos tranquilos como também espumantes, chamados de Crémant de Bourgogne.

Dentro das denominações regionais também existe uma escala de hierarquia, ou seja, uma nova pirâmide dentro deste degrau da pirâmide de classificação geral da Borgonha. São três degraus diferentes, incluindo, no total, sete AOC diferentes. A base é composta pela denominação de origem Côteaux Bourguignons, que é relativamente pequena, com cerca de 270 hectares de vinhedos.

Fonte: Robin Kick MW, Wine Scholar Guild

O segundo degrau, por sua vez, é de longe o maior, incluindo a denominação de origem Bourgogne AOC (com mais de 2.600 hectares de vinhedos) e as Apellations Régionales Bourgogne com uso de uvas ou métodos específicos (Bourgogne Aligoté, Bourgogne Passe-Tout-Grains, Bourgogne Mousseax e Crémant de Bourgogne). Por fim, o terceiro degrau considera a denominação regional Mâcon AOC e as diversas indicações geográficas dentro da Bourgogne AOC.

Bourgogne Villages

O segundo degrau da pirâmide geral da Borgonha inclui todos os vinhos elaborados a partir das 44 denominações de origem Villages, desde que não sejam elaborados a partir de vinhedos Gran Cru ou Premier Cru. Existem municípios, ou villages, que não contém vinhedos de classificação mais alta, portanto o produtor pode classificar seus vinhos com o nome desta village, como, por exemplo, Fixin ou Mercurey.

Já nas denominações Villages onde existem vinhedos Gran Cru ou Premier Cru, os vinhos são elaborados quase sempre a partir dos vinhedos não classificados, que, porém, bem representam o terroir desta village. As Appellations Villages respondem por cerca de 37% da produção total da Borgonha. É a categoria com maior participação de vinhos brancos, com cerca de 75%.

Premier Cru

O degrau seguinte da pirâmide corresponde às Appellations Premier Cru, que concentra os vinhos elaborados a partir de vinhedos classificados como Premier Cru. Em geral, estes vinhos são rotulados com o nome da village de origem, acrescido pela expressão Premier Cru e o nome do climat. Por exemplo, um Chablis elaborado a partir do climat Montée de Tonnere (classificado como Premier Cru), estampa em seu rótulo Chablis Premier Cru Montée de Tonnere.

Na Borgonha existem cerca de 640 climats classificados como Premier Cru e destes vinhedos são produzidos aproximadamente 10% do total de vinhos da região. Em termos de variedades, existe um maior equilíbrio, com os vinhos brancos correspondendo a aproximadamente 55% da produção.

Gran Cru

Este é o topo da pirâmide de classificação da Borgonha. Corresponde a pouco mais de 1% da produção total e é o único dos quatro degraus onde predominam os vinhos tintos, com cerca de 57% do volume desta categoria. Apesar do pequeno volume produzido, é dividida em 33 denominações de origem distintas, cada uma correspondendo a um vinhedo, ou climat, diferente.

Ao contrário dos Premier Cru, nem sempre o nome do município aparece em destaque no rótulo. Isso ocorre, por exemplo, em Chablis (exemplo Chablis Gran Cru Le Clos), mas não em Gevrey-Chambertin, onde os Gran Cru trazem apenas o nome dos vinhedos, como por exemplo Chambertin Grand Cru ou Chambertin-Clos de Bèze Gran Cru). São, de forma geral, os vinhos mais caros e exclusivos da Borgonha.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; The World Atlas of Wine, Hugh Johnson

Imagem: Vins de Bourgogne

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