Todos os vinhos envelhecem bem: lenda ou realidade?

A expressão “envelhece como um bom vinho” é muito comum. Ela ressalta que o passar do tempo pode trazer qualidades, seja para uma pessoa ou objeto. Mas, focando nos vinhos, será que a percepção que muita gente tem de que vinhos são feitos para consumo futuro faz sentido? Ou, de forma alternativa, todos os vinhos realmente envelhecem bem?

A resposta é simples: não há como afirmar de antemão, deve haver uma análise de diferentes elementos antes de chegar a esta conclusão. Porém, podemos afirmar uma coisa. A maioria dos vinhos vendidos atualmente não foi elaborada para ser guardada, ou seja, possivelmente será melhor aproveitada se consumida rapidamente.

Mas isso nem sempre foi assim. Como qualquer produto, o vinho também responde às demandas de seus consumidores. Se, no passado, muita gente tinha a paciência, espaço e recursos para guardar vinhos em suas casas (muitos com adegas para esta função), a realidade atual é diferente. De forma geral, o consumidor de vinho mudou.

Tendência de mercado

Mais e mais pessoas vivem em espaços menores e com uma mentalidade mais de curto prazo, dando mais importância ao presente do que ao futuro. E isso se reflete na escolha de vinhos: há cada dia mais demanda por vinhos de consumo rápido. As estatísticas na Europa mostram que as categorias de vinho que mais crescem são as que refletem este comportamento.

O consumo de vinhos rosé segue crescendo rapidamente, assim como também o de brancos. O mesmo vale para espumantes, é só analisar o crescimento explosivo de vinhos mais simples, como Prosecco. No caso dos tintos, cada vez aumenta a proporção de vinhos para consumo mais rápido, mais leves e descomplicados.

Beber logo, sem guardar

A resposta dos produtores, por sua vez, é a esperada: se o consumidor pede vinhos para consumo mais rápido, é neste segmento que está o crescimento. É difícil apontar uma proporção, mas possivelmente mais de 90% dos vinhos lançados atualmente podem ser consumidos rapidamente. Mas será que eles têm capacidade para evoluir?

Generalizar é sempre perigoso, mas a resposta é que grande parte deles tende a ganhar muito pouco com a evolução em garrafa. Podem até se manter interessantes ou até evoluir em alguns casos, mas a maioria deve ser consumida de acordo com a proposta inicial: rapidamente.

Toda regra tem exceções

Obviamente, muitos vinhos foram feitos para durar, que podem (e, muitos deles, devem) ser apreciados depois de um bom tempo de guarda. Mas isso representa uma parcela menor do mercado. Estamos falando aqui, em geral, de vinhos mais exclusivos, seja pela forma de elaboração mais artesanal ou pelo uso de materiais mais caros (barris de carvalho, por exemplo).

E quais vinhos se encaixam nesta categoria? Isso depende muito da variedade utilizada, do processo de produção, da região e, sobretudo, da intenção do produtor. Muitas variáveis devem ser levadas em consideração, exigindo um conhecimento mais profundo por parte do consumidor.

Exemplo

Um exemplo claro é o Barolo. Trinta anos atrás era praticamente uma heresia abrir uma garrafa de Barolo com menos de 15 anos (e muitos destes vinhos duram uma eternidade, acima de 50 anos, em ótimas condições). Mas, atualmente, existem produtores que mudaram as práticas de elaboração para ter vinhos prontos em cinco anos. Mas que, possivelmente, não terão a longevidade dos anteriores.

Em geral, vinhos tintos tendem a ter um potencial maior de guarda, pois além da acidez, eles contam também com a presença e ação dos taninos, que funcionam como um anti-oxidante natural. Mas, mesmo assim, boa parte dos vinhos vendidos hoje no mercado não tem as características que permitam uma guarda longa.

Janela de consumo ideal

Um conceito importante para ter em mente é o da janela de consumo ideal. Existe um intervalo de tempo no qual se pode consumir um vinho em suas condições ideais, mas isso varia muito, de acordo com cada vinho. No exemplo do Barolo de antigamente, sua janela ideal seria, digamos, de 15 a 40 anos. Nos vinhos atuais de alguns produtores desta mesma região, de 5 a 20 anos.

Isso vale para todos os vinhos, obviamente com intervalos de tempo distintos. Aquele rosé refrescante que você comprou no supermercado pode ter uma janela de consumo ideal entre hoje e dois anos. Para aquele Pinot Noir de R$ 150, por exemplo, talvez hoje a cinco anos. Mas, novamente, é complicado generalizar.

Conclusões

Portanto, antes de guardar uma garrafa de vinho para consumo futuro, procure entender sua janela de consumo ideal. Muitas vezes os próprios produtores indicam isso no contra-rótulo ou nas informações promocionais, mas, na maioria das vezes, é o consumidor que deve ser dar ao trabalho de pesquisar melhor.

Caso não tenha tempo ou disposição para tal, pergunte, seja para quem te vendeu o vinho ou para um amigo que conhece o assunto. Vinhos podem envelhecer muito bem e atingir janelas de consumo ideal, mas sempre existe o risco de guarda-los por tempo excessivo. E uma das sensações mais frustrantes é criar expectativas de que o vinho melhorou, para perceber que, ao abrir a garrafa, na verdade ele deveria ter sido consumido antes.

Imagem: Arno Mitterbacher via Pixabay

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