Um bom vinho começa no vinhedo: conheça o método Guyot de poda e condução de videiras

Para produzir bons vinhos, são necessárias uvas saudáveis e de qualidade. E, para obter uvas com o padrão necessário, o viticultor deve tomar uma série de decisões. Uma delas é a opção pelo sistema de condução e poda de seus vinhedos. Atualmente, em boa parte das principais regiões produtoras de vinho do mundo, o sistema de condução escolhido é o de espaldeira. Neste sistema, as videiras são organizadas em fileiras, como se fossem várias cercas. Este formato não somente impacta a qualidade das uvas, mas também facilita o cultivo e a colheita.

Vinhedo em espaldeira em Savigny-les-Beaune, na Borgonha

Porém, mesmo dentre os vinhedos conduzidos em espaldeira, existem variações de poda, que podem trazer importantes diferenças na qualidade das uvas produzidas. O viticultor, ao optar por um sistema de poda, pode modificar tanto a quantidade quanto a qualidade da produção, pois isso permite que ele controle melhor o vigor da videira.

E se as regiões francesas da Borgonha e do Bordeaux seguem sendo algumas das principais referências para vinhos de qualidade, há um modo de poda predomina nas duas regiões: Guyot. Criado pelo médico e agrônomo francês Jules Guyot na década de 1860, este sistema se tornou muito popular, inicialmente na França, e depois no resto do mundo.

O método Guyot

A poda das videiras conduzidas em espaldeiras, com raras exceções, é realizada durante o inverno e pode ser dividida em dois grupos. De um lado, há uma poda mais radical, que mantém basicamente apenas o tronco e poucas varas (espécies de galhos) na videira. De outro, existe um menos intensa, que mantém uma parte do tronco permanentemente ligada ao fio de condução, como pode ser visto na segunda imagem abaixo.

O sistema Guyot é aquele onde o tronco é podado de forma radical, sem que ele tenha contato com os fios de condução, como detalhado na primeira imagem acima. No momento da poda, o viticultor deixa apenas duas varas, que irão dar origem aos ramos e cachos de uvas desta e da safra seguinte.

Guyot simples e Guyot duplo

O sistema Guyot, porém, também tem duas formas distintas. De um lado, existe o Guyot simples, com uma vara mais curta e uma mais longa. A mais longa contém geralmente entre seis a oito gemas (ou gomos, que é de onde irão surgir os brotos) e será a responsável pela produção nesta safra. Já a segunda, geralmente com apenas duas gemas, será a origem das uvas da safra seguinte. É o sistema retratado na primeira imagem do diagrama acima.

Na França, onde é conhecido como Guyot Simple, é usado em praticamente todo o país, mas geralmente é mais associado à Borgonha. Na Itália, chamado de Guyot Singolo, é mais popular no Piemonte, Friuli-Venezia Giulia e Toscana, enquanto na Espanha tem maior presença na Rioja.

Já o Guyot duplo, como o nome indica, é basicamente o uso do método Guyot de forma “dobrada”. Duas varas são usadas, esticadas em direções opostas para formar uma espécie de “T”. Chamado de Guyot Double na França, é mais associado com Bordeaux, mais é muito popular no Sudoeste, Alsace, Champagne, Jura, Savoie e Loire. Também tem uma presença nacional da Itália e Espanha, onde é chamado, respetivamente, de Guyot Doppio e Guyot Doble.

Guyot duplo em Saint-Aubin, na Borgonha

Vantagens

O sistema Guyot é comumente usado em regiões vinícolas de clima mais frio, incluindo as já mencionadas anteriormente, mas também em Sonoma e Oregon, nos Estados Unidos. Ele limita o crescimento lignificado da videira apenas ao tronco, o que a torna menos vulnerável às geadas. Além disso, este método tende a ser escolhido por viticultores que trabalham com vinhedos de alta densidade. Nestes casos, em que as videiras competem por água e nutrientes, ele mantém o vigor das videiras sob controle.

Já a escolha entre Guyot simples e duplo depende da região, variedade e objetivos do produtor. De forma geral, o Guyot simples é preferível para variedades de baixo a moderado vigor, além de ser considerado um sistema simples de manter. Ele resulta em menores rendimentos que o Guyot duplo, o que o torna ideal para produtores que buscam uvas mais concentradas e de qualidade mais alta.

O Guyot duplo, por sua vez, traz algumas vantagens para os produtores, com o principal benefício sendo financeiro. Além de maior produtividade, ele requer menos videiras por hectare do que o simples, de forma que o produtor pode comprar menos plantas ao replantar um vinhedo.

Imagens: Arquivo pessoal

Fontes: Wine Scholar Guild; Wine Folly

Diagrama: Wine Scholar Guild

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