Imagine um jantar em Londres e o cliente decide pedir um Pinot Noir de alta qualidade, para harmonizar com um magret de pato. O sommelier sugere duas alternativas: de um lado um Borgonha, de preço mais alto e, de outro, uma novidade. Que tal provar um vinho inglês desta uva, que recebeu 92 pontos de um crítico famoso?
Isso ainda pode não ser realidade, mas possivelmente é apenas uma questão de tempo. Por conta dos impactos do aquecimento global, pesquisadores estudam há anos as possibilidades de expansão dos vinhedos de Pinot Noir. E um novo estudo publicado, com foco no Reino Unido, mostra que em algumas décadas a mais nobre das uvas tintas deve ter uma nova casa.
Vinhos tranquilos britânicos de qualidade
Se a Inglaterra já produz atualmente espumantes de alta qualidade e recentemente teve sua primeira denominação de origem aprovada, o futuro parece ainda mais promissor. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de East Anglia (UEA), da London School of Economics, Vinescapes Ltd e Weatherquest divulgou um estudo analisando as perspectivas da viticultura no Reino Unido nos próximos 20 anos.
O estudo revela como as mudanças climáticas provavelmente aumentarão o potencial de produção de vinho tranquilo no Reino Unido. E não seria somente do ponto de vista de quantidade, mas também de qualidade. A expectativa é que passem a existir condições de plantio e cultivo de uvas nobres, entre elas a Pinot Noir, que se assemelham às de algumas famosas regiões da França e Alemanha.
Vastas áreas e rápido crescimento
As projeções climáticas indicam que as condições de uma grande área da Inglaterra e do País de Gales devem se tornar adequadas para o cultivo de variedades de uvas, tanto para espumantes como vinhos tranquilos. Com isso, não somente o potencial para a produção de vinho espumantes de alta qualidade está aumentando rapidamente.
O Prof. Steve Dorling, da Escola de Ciências Ambientais da UEA e da Weatherquest Ltd, vê boas perspectiva. “Vimos a viticultura no Reino Unido crescer quase 400%, de 761 para 3.800 hectares entre 2004 e 2021”. “Durante esse período, o aquecimento global tem permitido rendimento e qualidade muito mais confiáveis das variedades Pinot Noir e Chardonnay”. Estas são as uvas atualmente usadas na produção dos bem-avaliados espumantes britânicos.
Ganhando com o aquecimento global
O principal autor do estudo, Dr. Alistair Nesbitt, da consultoria Vinescapes Ltd, também vê enorme potencial. “Este trabalho é pioneiro no Reino Unido, uma combinação única de ciência das mudanças climáticas, viticultura e conhecimento do vinho. “Identificamos áreas significativas dentro da Inglaterra e do País de Gales que devem se tornar mais quentes até 2040, em até mais 1,4°C, durante o período de cultivo de uvas”.
Isso expandiria a área de adequação para Pinot Noir para produção de espumantes. Em paralelo, novas áreas devem mostrar condições ideais para a produção de vinhos tranquilos de Pinot Noir. O cenário é também promissor para outras variedades. Sauvignon Blanc, Riesling, Semillon e outras uvas que dificilmente são cultivadas no Reino Unido no momento devem ganhar mais espaço.
Nesbitt deixa claro seu otimismo. “Mostramos que em algumas áreas do Reino Unido a safra de 2018 se tornará a norma, e que as temperaturas vistas na região de Champagne entre 1999 e 2018 devem ocorrer em uma área em expansão da Inglaterra durante 2021-2040. Em certos anos, algumas áreas do Reino Unido podem ver climas semelhantes aos que contribuíram para as melhores safras recentes de Champanhe, bem como apoiar o aumento do potencial para vinhos tintos como na Borgonha ou Baden.” Resta saber agora se a Rainha Elizabeth ainda estará por lá para provar estes novos produtos de excelência Made in Britain.
Fonte: Climate change projections for UK viticulture to 2040: a focus on improving suitability for Pinot noir, Alistair et all
Imagem: PublicDomainPictures via Pixabay
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