Fundada em 1798, a Jacquesson & Fills é considerada uma Maison de médio porte em Champagne (cerca de 300 mil garrafas/ano) e é atualmente administrada pelos irmãos Jean-Hervé e Laurent Chiquet. Desde 2022, contam com a Artémis Domaines (holding que controla diversas vinícolas, entre elas Château Latour e Clos de Tart) como acionista minoritário.
Além de seus Champagnes safrados, a Jacquesson ganhou notoriedade pela sua série 700. Ao invés dos Champagnes não safrados de outras Maisons, que buscam homogeneidade entre safras, os irmãos Chiquet buscam expressar as características de cada colheita. Assim, a cada safra eles lançam um blend com maioria dos vinhos da safra corrente, mais uma proporção variável de vinhos de reserva, ou seja, de safras mais antigas.
O primeiro vinho desta série foi a Cuvée nº 728, que tem maioria de uvas da safra 2000. A escolha deste número foi mais acidental do que estratégica: ele representa um registro administrativo: era o 728º vinho produzido na história de quase dois séculos da vinícola. Desde então, vinhos da série 700 são lançados todos os anos. Para saber a safra “base”, basta subtrair 28 dos dois últimos digítos (para a Cuvée nº 740, por exemplo, temos 40-28 = 12, portanto safra 2012).
Uma pequena vertical
Para entender melhor a expressão das diferentes safras de Champagne pela ótica dos irmãos Chiquet, nada melhor que uma vertical com algumas das cuvées da série 700. Neste caso, foram degustados seis vinhos: da Cuvée nº 737 (a última com seu rótulo antigo) até a 742, ou seja, vinhos que representam as safras de 2009 a 2014.
Cuvée nº 737
É um corte de 43% Chardonnay, 27% Pinot Noir e 30% Pinot Meunier, com 70% de vinhos da safra 2009 e 30% de vinhos de reserva (boa parte da safra 2008 e algo das Cuvées n° 735 e 736). Dosage de 3,5 g/l e dégorgement em fevereiro de 2014.
Degustando: coloração amarela escura e perlage mais contido, com aromas de manteiga queimada, cereal, pera, tostado e leve mel. Palato intenso e profundo, já com notas de evolução bem presente. Complexa, porém com menos tensão.
Cuvée nº 738
A safra de 2010 foi considerada difícil, porém com boa qualidade para Chardonnay. E isso se reflete no corte: 61% Chardonnay, 18% Pinot Noir e 21% Pinot Meunier, com 33% de vinhos de reserva. Dosage de 2,5 g/l e dégorgement em maio de 2014, ou seja, quase um ano sur lattes a menos que o anterior.
Degustando: Perlage fino e constante, com olfativo marcado por aromas cítricos (mexerica) e leveduras. Com alta acidez, mousse média e mais salinidade no gustativo.
Cuvée nº 739
Uma safra controvertida, 2011 foi responsável por 69% deste blend, que 57% Chardonnay, 21% Pinot Noir e 22% Pinot Meunier. Foram produzidas mais de 260 mil garrafas de 750 ml desta cuvée, uma das mais abundantes. Dosage de 3,5 g/l e dégorgement em março de 2016.
Degustando: abriu com notas redutivas e herbáceas no olfativo, um Champagne menos profundo e mais vertical, com notas verdeais também no palato, fechando com leve amargor. Dentre todas as cuvées degustadas, a que menos me agradou.
Cuvée nº 740
Entre todas as safras aqui representadas, 2012 é considerada a melhor, com produção menor (problemas com míldio na primavera), mas altíssima qualidade, após um verão “perfeito”. Foi mantido o corte da safra anterior, com apenas 20% de vinho de reserva, dosage de 1,5 g/l e dégorgement em setembro de 2016. Produção de somente 195 mil garrafas de 750 ml.
Degustando: o ponto alto mais alto de um excelente painel. Coloração amarelo brilhante, com perlage intenso e olfativo rico, com notas de giz, frutas brancas e cítricos. No gustativo, alta acidez e muita tensão, combinando elegância com uma excelente estrutura. Delicioso e complexo.
Cuvée nº 741
Uma safra muito boa, apenas abaixo de 2012 nesta amostra. A quantidade de informações divulgada pela vinícola, porém, caiu a partir desta safra, restando o contrarrótulo como fonte. Dosage de 2,5 g/l, dégorgement em março de 2016 e produção de 212 mil garrafas de 750 ml.
Degustando: sem a complexidade da anterior, mas entre os meus três destaques do painel. Coloração amarelo palha com perlage fino, aromas cítricos intensos, com notas de fruta branca e giz. Na boca, acidez cortante e muita tensão, um Champagne elétrico e que ainda deve ganhar com um pouco mais de garrafa
Cuvée nº 742
Safra mais difícil, por conta das chuvas no verão, embora 2014 tenha trazido Chardonnay de alta qualidade. Da parcela da safra 2014, foi um blend de 59% Pinot Noir e Pinot Meunier (de Aÿ, Dizy e Hautvillers) e 41% Chardonnay (de Avize e Oiry). Dosage de 1,5 g/l, dégorgement em outubro de 2018 e produção de 222 mil garrafas de 750 ml.
Degustando: logo após servido, se mostrou mais tímido e contido, com olfativo marcado por notas de levedura, cereal, frutas brancas e cal. Na boca, trouxe alta acidez, mais textura, boa mousse. Um Champagne equilibrado, que foi ganhando complexidade com mais tempo em taça, garantindo seu lugar entre os destaques do painel.
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