Vinho, chocolate e roupas: novo uso dos taninos pode revolucionar também o que você veste

Vinho tinto e chocolate têm muitas coisas em comum. Além de terem uma enorme legião de fãs e fazerem parte do grupo de substâncias que trazem mais prazer para quem aprecia o seu consumo, eles dividem também algumas propriedades químicas. Ambos são ricos em taninos, particularmente o ácido tânico.

Há também um outro ponto em comum, este um aspecto menos conveniente. Se você já derrubou vinho tinto ou chocolate em algum tecido, deve lembrar da dificuldade que existe para limpar a mancha. Porém, esta característica agora está sendo explorada por cientistas, com a criação de uma técnica que pode revolucionar a indústria têxtil.

Combatendo os aromas da transpiração

Verão é época de calor. E este calor pode dividir opiniões, há quem adore ou quem prefira um clima mais ameno. Porém, em alguma coisa todos concordam: calor leva à maior transpiração. E isso acaba afetando nossa forma de se vestir. Mesmo as roupas mais leves, porém, ainda acabam afetadas pelo nosso suor. A solução mais simples, além de mais banhos, é trocar de roupa mais frequentemente.

Os efeitos de microrganismos e bactérias resultantes do suor são conhecidos por todos. Mas o que fazer para combater isso? A solução mais usada é o uso de desodorantes, mas isso, porém, não é suficiente. Para tentar contar a ação dos micróbios nos tecidos, algumas soluções incluindo o uso de prata (que tem forte impacto antimicrobiano) já foram testadas, com resultados limitados. Mas isso agora pode mudar.

Ácido tânico como aliado

O que vinho e chocolate têm a ver com prata e transpiração? Uma equipe liderada por pesquisadores da Escola de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade de Tóquio tem a resposta. Estes cientistas foram pioneiros na criação de um revestimento de prata antimicrobiana que pode ser usado de forma simples e econômica em uma infinidade de itens da indústria têxtil.

O segredo? Eles usaram ácido tânico para criar uma ligação estável entre a prata e os tecidos. E são exatamente estes polifenóis, encontrados em chocolate e vinho tinto, entre outros, que são responsáveis por sua capacidade de manchar roupas e toalhas de mesa. Esta combinação entre prata e ácido tânico está por trás de um novo revestimento para tecidos, que consegue reduzir a ação microbiana sem danificar os tecidos e, melhor, ainda resiste à lavagem.

Observação empírica

“Como as crianças costumam fazer, meu filho manchou sua camiseta com chocolate um dia, e eu não consegui tirar a mancha “, afirmou o pós-doutorando Joseph Richardson. “O professor Hirotaka Ejima e eu estamos estudando polifenóis há mais de uma década, mas esse incidente com chocolate me fez pensar em usar ácido tânico para ligar prata aos tecidos. Achamos que encontramos dois métodos para aplicar nosso revestimento de prata antimicrobiano em têxteis, adequados para diferentes casos de uso.”

O primeiro método pode ser útil para os fabricantes de roupas ou tecidos. Os têxteis podem simplesmente ser banhados em uma mistura do composto de prata e polifenóis. Outro método, talvez mais adequado para negócios de pequena escala, incluindo uso caseiro, é pulverizar itens de vestuário, primeiro com o composto de prata e depois com os polifenóis. Uma vantagem óbvia é que as pessoas podem, assim, adicionar o revestimento aos itens de vestuário já existentes.

Facilidade e eficiência

“Mas o mais interessante não é a facilidade de aplicação, mas o quão eficaz é o revestimento”, afirmou Richardson. “Queríamos estudar o efeito do revestimento antimicrobiano não apenas em bactérias causadoras do mal cheiro, mas também em fungos e patógenos, como vírus. Com tantas variáveis para controlar, foi um desafio testar variações de compostos contra diversos microrganismos. Mas através da otimização cuidadosa de nossos métodos de teste, descobrimos que o revestimento neutraliza tudo o que testamos. Assim, este revestimento pode ser útil em hospitais e outros ambientes idealmente estéreis.”

A eficácia deste novo revestimento é tão alta que têxteis revestidos testados pelos pesquisadores como algodão, poliéster e até seda, mantêm propriedades antimicrobianas e anti-odor por pelo menos 10 lavagens. Resta agora esperar pela aplicação comercial destas pesquisas, para que rapidamente possamos ter taninos não somente em nossas adegas, mas também em nossos guarda-roupas.

Fontes: Rapid Assembly of Colorless Antimicrobial and Anti-Odor Coatings from Polyphenols and Silver”, Joseph J. Richardson, Wenting Liao, Jincai Li, Bohan Cheng, Chenyu Wang, Taku Maruyama, Blaise L. Tardy, Junling Guo, Lingyun Zhao, Wanping Aw, Hirotaka Ejima, Scientific Reports: February 8, 2022; The University of Tokyo

Imagem: David Greenwood-Haigh via Pixabay

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