Vinhos alemães: decifrando os rótulos

A Alemanha produz alguns dos melhores vinhos do mundo, mas, por outro lado, também tem os rótulos mais complicados de entender. Além da questão do idioma, com um vocabulário extenso e as combinações de palavras que criam expressões enormes, vem também a questão do sistema de classificação.

O sistema de classificação oficial alemão é bastante complexo e detalhado. Mesmo antes das últimas alterações, simultaneamente ele pode classificar os vinhos de acordo com três critérios distintos: por qualidade (levando em conta as condições de plantio das uvas, regiões e alguns critérios de terroir), por conta da quantidade de açúcar presente nas uvas (medida no mosto) e pela avaliação de acordo com o nível de açúcar residual do vinho, informando se ele é doce ou seco.

Muita informação

Porém, além do sistema de classificação oficial, também existe uma outra matriz de classificação, criada pela VDP, uma associação de produtores, que criou uma segmentação dos vinhos de maior qualidade exclusivamente de acordo com as condições de terroir, em linha com a prática que começou na França.

Em resumo, além das informações que normalmente estão presentes em um rótulo de vinho ao redor do mundo, na Alemanha a quantidade de informações é muito maior. Vamos tentar explicar tudo isso, usando como exemplo o rótulo abaixo

1 – Produtor

Esta é uma informação obrigatória, aliás não somente na Alemanha. Neste caso, estamos nos referindo à vinícola Hans Wirsching, que também informa no rótulo (informação não obrigatória), que atua na viticultura desde 1630. Embora não seja o caso na parte principal deste rótulo, é muito comum na Alemanha um termo antes do nome, assim como Château na França. Os mais comuns são Kloster, Schloss, Burg, Domaine ou Weingut.

2 – Variedade

Neste caso, estamos falando de um vinho elaborado com a uva Riesling, talvez o maior símbolo da vinicultura alemã. Grande parte dos vinhos produzidos na Alemanha são de variedades locais, como Riesling, Silvaner, Muller Thurgau etc, mas também vem crescendo a proporção de vinhos de uvas francesas, como o Pinot Noir (Spätburgunder na Alemanha) e Pinot Blanc (Weissburgunder).

3 – Safra

No caso temos aqui um vinho de 2010. Também uma informação bastante padronizada.

4 – Região

Este é um vinho produzido na região de Franken (Francônia em português). É uma das 13 regiões autorizadas (Anbaugebiet em alemão), a produzir vinhos de alta qualidade, juntamente com regiões como Mosel, Rheingau, Rheinhessen, Pfalz etc.

5 – Origem

Esta é uma informação não obrigatória e se refere ao vilarejo de onde vem as uvas. A expressão Iphöfer se refere a “de Iphöfen”, que é o nome oficial do vilarejo. Da mesma forma, se o vinho hipoteticamente viesse de Berlin, constaria a expressão Berliner (com o sufixo –er).

6 – Vinhedo

Outra informação não obrigatória, Kronsberg se refere ao nome do vinhedo específico de onde vieram as uvas.

7 – Grau de álcool do vinho

informação bastante padronizada.

8 – Informações do produtor

Boa parte da informação que, no caso deste rótulo, foi disponibilizada no anel dourado, se refere ao nome completo do produtor (aí aparece a palavra Weingut) e seu endereço, no caso, no vilarejo de Iphöfen.

9 – Tipo de produtor

Gutsabfüllung, que é um termo alternativo para Erzeugerabfüllung, indica que o produtor cultiva as uvas, produz e engarrafa seu próprio vinho. Caso fosse uma cooperativa, o termo incluiria Winzergenossenschaft e, por sua vez, caso as uvas fossem de outro viticultor, o termo seria Abfüller.

Termos referentes às classificações

As quatro descrições a seguir dizem respeito exclusivamente às classificações oficiais alemãs:

A) Deutscher Prädikatswein ou Prädikatswein se refere à escala mais alta dentre as quatro listadas na classificação oficial alemã de qualidade. Em ordem crescente, as demais são Deutscher Wein (anteriormente chamada de Tafelwein), Landwein e Qualitätswein;

B) Como este é um vinho classificado como Prädikatswein, existe uma outra classificação para segregar os vinhos em categorias distintas, de acordo com o teor de açúcar nos mostos. Kabinett é a categoria de menor açúcar, em ordem crescente as demais sendo Spätlese, Auslese, Beerenauslese, Eiswein e Trockenbeerenauslese;

C) Trocken se refere a outra classificação oficial, aquela que mede o grau de açúcar residual no vinho (ao contrário da anterior, que media os açúcares da uva). Os vinhos classificados como Trocken são os mais secos, sendo os demais, em ordem crescente Halbtrocken, Feinherb, Liebliche e Süss (os dois últimos raramente presentes em rótulos);

D) Número AP. Ao contrário de outros países, a Alemanha implementou um sistema de testes abrangentes para seus vinhos de maior qualidade dentro de sua classificação oficial (Qualitätswein e Prädikatswein). Este sistema é chamado de AP, abreviação de Amtliche Prüfungsnummer, e o número AP pode ser traduzido como “número oficial de teste”. Cada vinho produzido na Alemanha nestas categorias de qualidade tem um número próprio, que inclui, entre outras informações, a região, o produtor e a safra (que são os dois últimos dígitos – como o vinho é sempre testado uma ano após a colheita, neste caso o final 11 indica que o vinho é da safra 2010).

Mais informação

E, por incrível que pareça, ainda faltam algumas informações. Como mencionado anteriormente, há uma classificação não oficial, da VDP. Quem faz parte deste seleto grupo de produtores pode usar o logo da associação, uma águia negra com um cacho de uvas dentro. Neste vinho, o logo estava na cápsula.

Para os vinhos classificados pela VDP, é comum encontrar também uma menção a esta classificação, que se divide em quatro grupos, em ordem crescente de qualidade do terroir: VDP. Gutswein, VDP. Ortswein, VDP. Erste Lage® e VDP. Grosses Gewächs (GG) para vinhos secos e VDP. Grosse Lage® para vinhos doces.

Bem-vindo ao mundo daqueles que conseguem decifrar o rótulo de um vinho alemão!

Imagem: www.germanwines.de

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