Vinhos uruguaio: evento em São Paulo evidencia novas rumos e tendências

O Uruguai, um dos países de maior estabilidade econômica e política da América Latina, começa também a ganhar maior destaque por outro motivo. Embora sua produção de vinhos fique bem abaixo dos três maiores produtores da América do Sul (Argentina, Chile e Brasil), o pequeno país à beira do Rio de la Plata segue apostando na qualidade de seus vinhos.

Um evento realizado pela Uruguay Wine em São Paulo no final de maio evidenciou que os uruguaios, segundo maior consumidor de vinho per capita da América Latina (somente atrás da Argentina), têm motivos para se orgulhar. A qualidade de seus vinhos começa a chamar a atenção e, mais do que isso, o país mostra uma maior diversidade, tentando quebrar a percepção (incorreta) de que apenas produz vinhos a partir da Tannat.

Diversidade

Embora exista uma associação quase imediata entre vinhos uruguaios e Tannat, esta variedade originária da França representa cerca de 27% dos vinhedos do país platino. Assim, embora ainda seja a variedade mais plantada, existe muito mais do que Tannat no Uruguai. E o evento em São Paulo mostrou isso, com diversos vinhos de uvas distintas.

Além dos vinhos apresentados nos stands dos produtores, chamou a atenção a Masterclass deste evento, com quinze vinhos de produtores diferentes. Embora a Tannat ainda tenha dominado a seleção (curiosamente apenas um dos vinhos era branco), outras uvas também se destacaram. Na ordem de serviço, os vinhos degustados foram:

Alquimia Corte Único Blanco 2020, Cerro del Toro

Tano Natural 2020, De Lucca

Tannat Viognier 2016, Alto de la Ballena

Castel Pujol Folkore Tinto 2021, Cerro Chapéu

Signature Winemaker 2020, Barras de Mahoma

Crudo 1 Tannat 2020, Montes Toscanini

Barrel-Less Tannat 2020, Viña Progreso

Petit Verdot 2018, Viña Narbona

Noble Alianza Cabernet Franc/Tannat/Marselan 2019, Familia Traversa

RPF Petit Verdot 2018, Pisano

Ombú Tannat Reserva 2020, Bracco Bosca

Osiris Tannat 2013, Antigua Bodega

Preludio Tinto 2016, Familia Deicas

Monte Vide Eu 2019, Bouza

Balastro 2018, Bodegas Garzón

Estilos distintos

Se a percepção de muita gente em relação aos vinhos uruguaios ainda remete a monovarietais encorpados, extraídos e alcóolicos de Tannat, as amostras degustadas evidenciam que os produtores uruguaios têm buscado novos caminhos. Em primeiro lugar, variedades como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Albariño e Petit Verdot começam a ganhar mais espaço.

Já em termos de estilo de vinificação, alguns vinhos, como o Osiris Tannat 2013, por exemplo, ainda mantêm um estilo mais tradicional, com muita extração e madeira bem evidente, mas a maioria mostra uma tendência distinta. A busca por maior frescor, menos tempo em madeira e mais elegância definitivamente chegou também ao Uruguai.

Nesta linha, dois vinhos chamaram a atenção. O Barrel-Less Tannat 2020, da Viña Progreso, se mostrou fresco e fácil de beber, resultado dos cuidados com vinhedos e colheita mais precoce. Já o Tano Natural 2020, da De Lucca, trouxe muitas notas de frutas frescas e florais, um vinho que, mesmo intenso, mostrou frescor e muita vivacidade.

Agricultura e vinificação

Este vinho representou bem uma tendência que começa a ganhar corpo no Uruguai: menos química nos vinhedos e menos intervenção na vinificação. Embora a maioria dos produtores uruguaios ainda usem herbicidas e pesticidas sintéticos (até por conta do clima marítimo e úmido da região), já há avanços, com produtores como Bracco e Bosca partindo para agricultura sustentável.

Porém, o maior avanço parece estar nas práticas de vinificação. Além de menor extração e colheitas mais precoces, diversos produtores parecem estar adotando práticas menos intervencionistas, desde uso mais contido de madeira e sulfitos até a prática de fermentação com utilização exclusiva de leveduras indígenas. Além do Tanno Natural, outro exemplo foi o Crudo 1 Tannat 2020, da Montes Toscanini.

Diversas faixas de preços

Outro aspecto interessante do painel foi a diversidade de preços dos vinhos. Embora os valores praticados no Brasil, para a maioria dos vinhos, fiquem entre R$ 150 e R$ 300, houve exemplares de preço bem inferior, como o Noble Alianza Cabernet Franc/Tannat/Marselan 2019, da Familia Traversa. Este vinho, bastante simples, pode ser encontrado na faixa de R$ 50 em supermercados brasileiros.

Por outro lado, não há como negar que alguns vinhos uruguaios também passem pelo processo de gourmetização e elitização que parece ter tomado conta do mundo, inclusive quando falamos de vinho. O Balastro 2018, da Bodegas Garzón, um vinho de ótima qualidade e perfil elegante e refinado, está sendo oferecido na faixa de R$ 1.250. Sem querer comparar estilo e qualidade, é possível encontrar excelentes Premier Crus da Borgonha nesta faixa de preço, certamente algo a ser levado em conta.

Esta diversidade de preços parece indicar bem o momento atual do vinho uruguaio. Com cerca de 6.000 hectares plantados e 164 vinícolas (36,5 hectares por produtor), o Uruguai é um país onde predominam as vinícolas de médio porte. Com foco em colheitas manuais e bodegas familiares (algo muito distinto do Chile, por exemplo), o país parece cada dia mais apostar na qualidade que na quantidade. Ao menos falando em vinhos, o sol da bandeira uruguaia tem todas as condições para brilhar mais forte nos próximos anos.

Imagem: Monica Volpin via Pixabay

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