Chardonnay em vários estilos: saiba como a seleção clonal contribui para sua diversidade

A Chardonnay é atualmente a uva branca mais plantada no mundo. De suas origens na Borgonha, ganhou presença nos quatro cantos do planeta por sua incrível versatilidade, sendo usada para elaborar vinhos dos mais diferentes estilos. Porém, não são apenas as variações no terroir ou no método de elaboração que justificam as marcantes diferenças entre os vinhos.

Assim como no caso de outras variedades, como a Pinot Noir, por exemplo, existem diferentes clones de Chardonnay. Para quem não conhece, cada clone é criado a partir de uma única videira, mantendo o material genético idêntico à planta original. Os clones podem representar uma importante ferramenta para os viticultores, pois eles podem optar por um traço específico ou um grupo de características desejadas.

Quer um vinhedo mais produtivo de Chardonnay? Existe um clone mais adequado para isso. Ou o objetivo seria uma fruta com grãos ou cachos menores, ou mesmo que tenha maior capacidade de reter melhor a acidez? Idem. É uma escolha complexa, pois clima, tipo de solo e outros fatores determinam o sucesso que um clone em particular alcançará em um local específico.

Primeiros clones da Borgonha

Embora não exista ainda certeza, é muito provável que a Chardonnay tenha surgido incialmente na Borgonha, possivelmente na região do Mâconnais. Inclusive lá existe um vilarejo com este nome, com referências históricas muito mais antigas que a própria uva. A Chardonnay segue a sendo a uva líder na região, com cerca de 51% da área plantada. Assim, para falar de Chardonnay, a Borgonha serve como principal referência.

Na França atualmente existem 31 clones certificados de Chardonnay, os primeiros de grande sucesso comercial sendo oficialmente lançados em 1971. Dezoito deles (numerados entre 75 e 132) fazem parte deste grupo original, com destaque para três. Com origem em plantas da região de Saône-et-Loire (onde fica o Mâconnais), o clone 76 é um dos mais usados. Tem como características principais seu alto rendimento, bom desenvolvimento de açúcares e características aromáticas mais discretas. É cultivado também em outros países, não sendo incomum sua menção ser incluída até em rótulos.

Já com origem a partir de plantas da Côte d’Or, o clone 95 é conhecido pela sua habilidade para gerar vinhos de alta concentração e estrutura, além de características aromáticas mais presentes, mesmo mantendo rendimentos elevados. Seu uso é bastante comum na elaboração de espumantes, incluindo na Champagne. Já o 96, também originário da Côte d’Or, garante uvas com concentração média de açúcares, mais equilibrados e aromáticos.

Novas gerações

Outros dois clones originários da Borgonha ganharam muito destaque nas últimas décadas. O 548 foi certificado em 1978, a partir de plantas originárias de Saône-et-Loire. Ele dá origem a cachos menores e não tem a mesma produtividade do 76, 95 ou 96. Como seu nível de açúcar pode crescer bastante, seu uso é recomendado em locais de clima frio, onde a maturidade plena é mais difícil de ser alcançada. É considerado um clone de alta qualidade, dando origem a vinhos aromáticos, complexos e equilibrados.

A parte aromática é o diferencial do clone 809, com origem em Saône-et-Loire. Foi certificado em 1985 e garante rendimentos menores, com cachos e grãos pequenos e boa presença de açúcares. Este clone possui uma alta concentração do composto aromático linalool, que traz características que podem lembrar Moscatel no aroma e sabor. Geralmente é usado para blends, com um a proporção menor para evitar que as características mais florais dominem.

Em 2003 foi registrada uma nova linha de clones, chamada de Série 1000, entre eles os clones 1066, 1067 e 1068. Por conta de sua alta qualidade, rapidamente passaram a ser usados para replantio por diversos produtores da Borgonha.

Uso global

Todos estes clones inicialmente ganharam presença nos vinhedos da Borgonha. Segundo Christophe Deola, diretor da Louis Latour, os clones 76 e 95 são ainda os mais usados na região. Porém, são também muito utilizados ao redor do mundo. Marcelo Papa, enólogo-chefe da Concha y Toro, indica que, na busca por mais qualidade, os clones 76, 95 e 548 tornaram-se preponderantes no Chile.

Também na América do Norte, os clones da Borgonha ganharam espaço. David Adelsheim, fundador da Adelsheim Vineyards, no Vale de Willamette, em Oregon, afirmou que os chamados clones de Dijon (vieram inicialmente para os Estados Unidos a partir do Office National Interprofessionnel des Vins desta cidade francesa) são muito comuns. Segundo ele, os clones 76 e 95 seriam, de longe, os mais plantados no Oregon.

Outras fontes

Nos Estados Unidos, porém, além dos clones franceses, existe uma ampla variedade de outros clones, por conta, sobretudo, do trabalho da Foundation Plant Services (FPS) na Universidade da Califórnia, em Davis (UCD). Criado em 1958 para distribuir material vegetal livre de doenças, o FPS mantém mais de 80 clones de Chardonnay, identificados por número.

Na Califórnia, por exemplo, é bastante popular o clone UCD 4. Já na Austrália, clones como Gingin e Mendoza (originário da Argentina e adequado para Chardonnays mais intensos e que passam por estágio em carvalho), também fazem muito sucesso.

Fontes: Bourgogne Master-Level Study Manual, Wine Scholar Guild; Plantgrape; Wine Enthusiast; The Australian Wine Research Institute; Riversun;

Imagem: winemaker via Pixabay

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