Desafio: qual país produz vinhos tranquilos com teor alcóolico mais alto?

Existem duas tendências conflitantes no mundo do vinho, ao menos no que diz respeito ao teor alcóolico. De um lado, o aquecimento global tem elevado as temperaturas na grande maioria das principais regiões produtoras do mundo. E isso, muitas vezes, acaba resultando em vinhos de teor alcóolico mais alto. Não faltam exemplos, passando por Bordeaux, Piemonte, Napa Valley, Toscana e Rioja.

Por outro lado, o consumidor parece cada dia mais mostrar maior interesse por vinhos mais leves, onde predominam frescor e acidez mais alta. O forte crescimento no consumo de vinhos rosé ao redor do mundo (com destaque para a França) mostra bem esta tendência. Além disso, as novas gerações de consumidores parecem tratar bebidas alcóolicas de forma diferente, preferindo alternativas com menor teor alcóolico (ou mesmo sem álcool).

Teor alcoólico por país

Diante deste contexto, qual seria o teor alcóolico médio dos vinhos dos principais países produtores? Este é um cálculo complicado, por conta da quantidade de vinhos disponíveis no mercado. Porém, o blogueiro David Morrison, do The Wine Gourd, identificou uma alternativa interessante. Ele usou os dados do monopólio sueco de importação de vinhos, o Systembolaget.

Em sua pesquisa, considerou dados para 14.187 vinhos (em 26 de julho de 2023), com 6.375 tintos e 3.960 brancos (incluindo todos os vinhos, independentemente do tipo ou tamanho do recipiente). No entanto, somente nove países tinham mais de 100 vinhos disponíveis para comparação. Com estes números em mãos, ele calculou a proporção de vinhos com mais de 15% de álcool (tintos) e 14% (brancos), para cada país.

O campeão em teor alcóolico

Considerando individualmente vinhos brancos e tintos, um país lidera o ranking nas duas categorias: os Estados Unidos, conforme pode ser visto na tabela abaixo. Indo um pouco mais a fundo nos números, o que chama mais a atenção é a proporção de vinhos mais alcóolicos entre os brancos norte-americanos. Nada menos que 31% dos vinhos desta origem disponíveis para os suecos tinham mais que 14% de álcool.

Fonte: The Wine Gourd

E o que explica esta “indesejada” liderança dos Estados Unidos? De um lado, não há como negar o impacto do aquecimento global, sobretudo na California. Os últimos anos foram muito mais quentes e secos que o normal na principal região produtora norte-americana. Isso certamente, acabou impactando o teor alcóolico de seus vinhos. Em paralelo, será que o legado do crítico Robert Parker, com preferência por vinhos extraídos, alcoólicos e muito frutados, ainda teria reflexo sobre os produtores locais?

Mediterrâneo mais quente e surpresas

Os três maiores produtores de vinho do mundo (Itália, França e Espanha) também aparecem em destaque em ambos os rankings. Isso é mais uma prova de que o aquecimento global está fazendo uma enorme diferença nas principais regiões produtoras europeias, atingindo denominações de origem não somente em suas áreas mais ao sul (em torno do Mediterrâneo), mas também aquelas mais setentrionais.

A surpresa dos dados talvez fique na baixa proporção de vinho mais alcóolicos em outras áreas, como Portugal, ou outros países do Novo Mundo, como Austrália, Argentina e Chile. Uma possível explicação é o perfil de consumo dos suecos, que mostram preferência por vinhos mais caros e, de preferência, de menor intervenção. Isso ajuda a explicar as médias mais baixas de teor alcóolico nestes países, até pela baixa presença de vinhos mais comerciais e encorpados.

Fonte: The Wine Gourd; Systembolaget

Imagem: Michal Jarmoluk via Pixabay

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