Escolhendo e degustando vinhos antigos: dicas e recomendações

Vinhos antigos são fascinantes. Provar e compartilhar uma garrafa de um vinho mais antigo é uma experiência única. É algo que permite apreciar o quanto o tempo pode contribuir para trazer sensações olfativas e gustativas ainda mais ricas e complexas. Além disso, premia a paciência e sabedoria de resistir à tentação de abrir o vinho rapidamente, aguardando a chegada ao seu ponto ótimo de evolução.

Porém, a definição do que é um vinho antigo pode variar. Isso vai depender de vários fatores, entre eles variedade usada, região de produção, safra e produtor. Algumas combinações, como Barolo de uma safra de qualidade e produtor tradicional, permitem o consumo de vinhos acima de 40 anos, com quase garantia de qualidade. O mesmo ocorre com Rioja Gran Reserva, Hermitage e brancos semi-doces e doces feitos a partir de Riesling e Chenin Blanc. São vinhos quase eternos, uma verdadeira viagem em uma máquina do tempo em termos de sensações e prazeres.

Cuidado com a origem

Porém, escolher ou apreciar vinhos mais antigos exige uma série de cuidados. Tudo começa com uma análise dos principais fatores que acabam determinando a longevidade potencial do vinho, já listados acima. Mas, possivelmente, o fator mais importante é saber entender quais foram as condições de armazenamento destes vinhos.

Pouco adianta identificar uma garrafa de um produtor tradicional, de variedade ou safra que potencializam sua longevidade, se a garrafa foi conservada de forma inadequada. Tente saber por onde o vinho passou, dificilmente um vinho atinge sua plenitude se não for conservado adequadamente, com condições de temperatura e unidade ideais.

Analisando uma garrafa

Alguns sinais na garrafa podem ajudar nesta tarefa. Um deles é a condição da rolha. Caso possível, vale a pena remover a cápsula para analisar as condições externas da rolha. De forma geral, evite vinhos cujas rolhas estejam úmidas ou manchadas demais com vinho. Isso pode indicar que o conteúdo dentro da garrafa entrou em contato prolongado com o ambiente exterior. Porém, há casos em que isso não chega a ser um problema, pois no passado rolhas menores eram muito comuns. Na dúvida, prove o vinho.

Relacionado a isso, vale a pena analisar qual o nível do vinho dentro da garrafa. É natural que vinhos velhos tenham um nível menor do que os novos, até porque as rolhas permitem uma troca reduzida, mas constante, entre o vinho e o ambiente exterior. E quanto mais o tempo ficar na garrafa, maior será este contato. Caso haja uma perda significativa, como por exemplo em casos quando o nível esteja no ombro da garrafa, isso pode indicar que o contato com exterior talvez tenha sido em demasia.

A condição do rótulo, por sua vez, é um elemento bem menos importante para entender a condição do vinho. Obviamente, rótulos mais inteiros podem indicar uma conservação mais cuidadosa. Porém, não são poucos os casos nos quais nos deparamos com rótulos completamente avariados, mas com vinhos totalmente íntegros. Da mesma forma, sinal de mofo na parte exterior da rolha não é um motivo para desespero, o problema é se notar algo nesta linha na parte que fica em contato com o vinho dentro da garrafa.

Calibrando as expectativas

Apesar de todos os cuidados, é necessário ajustar as expectativas. Há sempre a possibilidade de se deparar com um vinho defeituoso, seja em safras mais recentes como mais antigas. No caso dos vinhos mais velhos esta probabilidade aumenta, tanto por conta do processo natural de envelhecimento como pelos fatores mencionados anteriormente, em especial suas condições de armazenamento.

Outro ponto importante é saber com quem você irá compartilhar seu vinho. Frequentemente escuto opiniões de que “vinhos velhos são todos iguais” ou que “vinho tem que ter aromas somente frutados, o resto é decadência”. Sem entrar em questões de gosto, evite abrir potenciais preciosidades com quem pensa assim. Certamente há quem aprecie vinhos mais antigos e complexos.

Características

À medida que o vinho envelhece, ele tem o potencial de desenvolver muito mais complexidade e nuances, tanto aromaticamente quanto no paladar. De outro lado, porém, estes vinhos tendem a ser menos encorpados e frutados. São vinhos mais sutis e suaves, muitas vezes mais austeros. Quando falamos em tintos, os taninos se mostram mais integrados e macios, já nos brancos a acidez segue bem presente.

Aliás, acidez é o principal fator por trás da boa evolução dos vinhos. Vinhos que mostram boa acidez já na sua elaboração tendem a envelhecer muito melhor. Isso explica porque alguns vinhos mais extraídos e frutados (pense naquele corte bordalês sul-americano da década de 2000) seguem desequilibrados mesmo depois de muitos anos na garrafa. Por mais que tenham passado por período longo em barricas de carvalho, não são vinhos de guarda. Por outro lado, o perfil de acidez ajuda a entender com alguns brancos sobrevivem décadas, como muitos elaborados com Riesling ou Chenin Blanc.

Como servir

Vale a pena seguir algumas regrinhas básicas para usufruir melhor os prazeres de vinhos mais antigos. Em primeiro lugar, deixe a garrafa descansar por algum tempo antes de abrir, preferencialmente na posição vertical. Com isso, os sedimentos se depositam na parte inferior da garrafa. Este processo pode levar alguns dias e, caso tenha que transportar o vinho (para um restaurante, por exemplo) tente fazê-lo na mesma posição, para evitar que o sedimento novamente se disperse.

Abra o vinho de forma delicada. Possivelmente a parte interna da rolha pode apresentar condições instáveis, quebrando facilmente. Portanto, procure usar um saca-rolhas de lâmina, não os tradicionais, pois o risco de que ela se desfaça pode ser significativo. O processo de abertura deve ser conduzido com cuidado.

Decante o vinho. É muito importante eliminar ao máximo os sedimentos. Este material residual pode trazer sabores amargos e adstringentes ao vinho, prejudicando seu equilíbrio. Além disso, está longe de ser agradável também do ponto de vista visual, já que o vinho se mostrará turvo na taça. Vale lembrar também que, depois de tantos anos enclausurado, o vinho costuma se beneficiar com algum contato com oxigênio.

O que esperar?

Vinhos mais antigos podem ser misteriosos e se expressar de formas distintas. Não entre em pânico se o vinho não mostrar suas verdadeiras qualidades logo após aberto ou servido. É muito comum que o equilíbrio venha apenas com mais algum tempo em decanter ou taça, aliás isso tende a ser quase sempre a regra nas situações quando o vinho está perfeitamente íntegro.

Porém, há também o caso daqueles vinhos que decaem rapidamente, possivelmente por já ter perdido sua integridade e/ou por sofrer o choque do contato com o oxigênio. Nestas horas, o mais importante é avaliar sua evolução ao longo do tempo em taça. Prove constantemente, são vinhos mais frágeis e instáveis, muitas vezes eles podem “melhorar” ou “piorar” em ciclos.

Por fim, nunca esqueça do potencial de harmonização que muitos destes vinhos possuem. Até por conta de suas condições de acidez e personalidade mais austera, muitas vezes se tornam ótimas alternativas quando acompanhados por comida, respeitando seu estilo. Aproveite estas experiências únicas com serenidade e sabedoria, certamente duas características que a idade deve trazer não para o vinho, mas para quem o aprecia.  

Imagem: Arquivo pessoal

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