O vinho espanhol está mudando: degustação explora uma nova geração de produtores da Espanha

Se o estilo de elaboração de vinhos mudou rapidamente ao redor do mundo nos últimos 20 anos, talvez a Espanha represente um exemplo a ser olhado de perto. Para Andrew Jefford, escritor de vinhos e consultor acadêmico da Wine Scholar Guild, nenhum país europeu viveu uma transformação tão intensa nas últimas décadas.

A opinião é compartilhada pelo Master of Wine espanhol Pedro Ballesteros. Ele, que atua como National Expert da Espanha na OIV e escreve para a publicação britânica Decanter, destaca que a Espanha finalmente ganhou confiança. Agora, muitas de suas vinícolas elaboram vinhos que melhor representem seu terroir, ao invés de simplesmente tentar agradar ao gosto de compradores e críticos estrangeiros.

Apenas a ponta do iceberg

Com o objetivo de melhor entender este movimento, nada melhor do que provar alguns vinhos desta nova geração de vinhateiros espanhóis. Sem deixar de lado a admiração pelos grandes vinhos de produtores mais tradicionais de regiões como Rioja, Ribera del Duero ou Priorat, vale a pena conhecer um pouco do trabalho de uma geração que busca uma nova proposta de vinhos.

A escolha recaiu sobre sete vinhos, infelizmente nenhum deles ainda disponível no mercado brasileiro. Sete regiões distintas foram representadas: dois vinhos brancos (um da região de San Lúcar de Barrameda, próximo a Jerez, e outro do Bierzo, da tradicional variedade Godello). Os cinco tintos representaram Tenerife (Ilhas Canárias), Castilla y Leon, Andaluzia, Ribeira Sacra e, por que não, Rioja (só que em um estilo totalmente distinto do que é mais comum no mercado brasileiro). Mas isso é apenas a ponta do iceberg.

Baixa intervenção e verticalidade

A maioria dos vinhos escolhidos representa a proposta de elaboração de vinho de baixa intervenção. Isso inclui a utilização de uvas de vinhedos de agricultura orgânica, uso de leveduras indígenas na fermentação, não adição ou doses pequenas de sulfitos e outros aditivos, além de uso parcimonioso de madeira no envelhecimento e refinamento.

E o resultado? De forma geral, o painel agradou e surpreendeu positivamente, até porque muitos dos vinhos provados são elaborados em escala artesanal (diversos com produção menor que 1.000 garrafas) e não haviam sido provados anteriormente. Nos próximos dias iremos publicar notas individuais sobre cada um, mas vale a pena algumas palavras sobre os principais destaques.

Surpresa, confirmação e destaques

Talvez a maior surpresa tenha sido o Godello 2017 da Demencia Wine. Se nesta safra foram produzidas somente 272 garrafas, ficou o arrependimento de não ter comprado mais, já que mesmo na Espanha somente a safra 2018 está disponível. Um vinho de muita personalidade, que conseguiu combinar uma presença de fruta mais madura com muita verticalidade e precisão.  Já o Bastarda 2019 da Fedellos do Couto apenas confirmou o que quem já havia provado vinhos deste produtor sabia. Um vinho leve e delicado, de muita elegância e pureza de fruta, que mostra o que é possível ser feito na Ribeira Sacra.

Destaque também para dois vinhos de baixíssima intervenção (ambos sem qualquer adição de sulfitos), que conseguiram agradar também aos paladares mais tradicionais: Ruf y Ann 2019, da Microbio Wines e El Cosmonauta y El Viaje em el Tiempo 2020, da El Mozo Wines. O último foi um exemplo de uma verdadeira volta ao passado, com variedades tintas e brancas co-fermentadas, resultando em um Rioja muito diferente do convencional, enquanto o primeiro mostrou o potencial da uva Rufete.

De forma geral, apenas uma pequena amostra do que vem acontecendo de novo no universo da vinicultura espanhola. Se já existem importadoras trazendo ao Brasil vinhos muito interessantes desta nova geração de produtores espanhóis, fica a dica: vale a pena ampliar os horizontes e conhecer a diversidade de vinhos que a Espanha pode oferecer.

Vinhos degustados

Godello 2017, Demencia 12,80%. 100% Godello, Bierzo, € 24

Las Mercedes de Callejuela 2020, Callejuela 12%, 100% Palomino Fino, Vino de España, Sanlúcar de Barrameda, € 16

PiNoir 2019, Bodega Cauzón 11,5%, 100% Pinot Noir, Vino de España, Granada (Andaluzia), € 24

El Chibirique Viñas Viejas 2018, Suertes del Marqués 12,5%, 100% Listán Negro, Tenerife, Valle de la Orotava, € 28

Bastarda 2019, Fedellos do Couto 12%, 100% Trousseau, Ourense, Ribeira Sacra, € 27

Ruf y Ann 2019, Microbio Wines 12,8%, 100% Rufete, Vino de España, Castilla y Leon, € 21

El Cosmonauta y El Viaje em el Tiempo 2020, El Mozo Wines 14%, Tempranillo, Garnacha, Viura, Malvasia e Turruntés, Rioja Alavesa, € 17

Imagem: Sumanley xulx via Pixabay

Foto: Arquivo pessoal

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