Sauvignon Blanc da Borgonha? Conheça a denominação de origem onde ela é protagonista

Quando se fala de vinhos brancos da Borgonha, certamente é a Chardonnay que vem primeiro à mente. Porém, embora seja a uva dominante na região, com cerca de 51% da área de vinhedos, não é a única. A Aligoté, considerada como uma “irmã” da Chardonnay (também resultou do cruzamento natural da Pinot Noir e da Gouais Blanc) corresponde a cerca de 6% dos vinhedos da Borgonha.

O que pouca gente sabe é que três outras uvas brancas também são plantadas na região. Elas podem, dependendo da região, ter seus vinhos classificados dentro de uma das denominações de origem locais. Apesar de fazer parte de um grupo de uvas que correspondem a menos de 1% da área plantada, a Pinot Blanc, uma mutação da Pinot Noir, é uma variedade considerada como principal, ao menos na denominação Bourgogne AOC.

Porém, existem duas uvas que não fazem parte da “família Pinot Noir” que são reconhecidas em uma denominação de origem village na região da Borgonha. São elas a Sauvignon Blanc e a Sauvignon Gris. E a denominação que é responsável por esta peculiaridade é Saint-Bris AOC, que recebeu este nome já que a grande maioria de seus vinhedos está localizada nos areredores do vilarejo de Saint-Bris-le-Vineux.

Somente uvas brancas

Criada em 2003 para substituir a appellation VDQS Sauvignon de Saint-Bris, os 160,8 hectares desta denominação de origem se estendem, além de Saint-Bris-le-Vineux, por outras quatro communes: Chitry, Irancy, Vincelottes e Quenne. Geograficamente, Saint-Bris-le-Vineux fica às margens do rio Yonne, a cerca de 10 quilômetros a sudeste de Auxerre e 16 quilômetros a sudoeste de Chablis.

Somente duas uvas são permitidas nos vinhos desta denominação de origem: as já citadas Sauvignon Blanc e Sauvignon Gris. É única entre todas as appellation villages da Borgonha em permitir somente uvas brancas. Curiosamente, outra uva branca plantada na região, a Aligoté, acaba sendo engarrafada como Bourgogne Aligoté AOC. Isso chama a atenção, pois muitos consideram os monovarietais de Aligoté da região como de altíssima qualidade, muitas vezes comparados com aqueles de Pernand-Vergelesses ou Bouzeron.

História e vinhos

No passado a região era conhecida pelos seus Aligotés. Porém, a partir do século XIX isso mudou, e sua reputação cresceu em função de seus Sauvignon Blanc. Por conta da intensa atividade comercial com a região de Sancerre, que fica a cerca de 80 quilômetros de distância, plantas de Sauvignon Blanc e Gris foram trazidas para Saint-Bris-le-Vineux em meados do século XIX.

A Sauvignon Blanc se adaptou muito bem à região, sobretudo nos vinhedos de orientação sul e leste. Muitos críticos descrevem seus vinhos como aromáticos, elegantes e complexos, com destacada mineralidade e notas herbáceas mais intensas do que nos Sancerre ou Pouilly Fumé. Já a Sauvignon Gris, mais plantada nos vinhedos de orientação oeste, dá origem a vinhos ligeiramente rosados e mais amplos e ricos.

Além dos vinhos, a região de Saint-Bris-le-Vineux é famosa também pelas suas pedreiras. Bailly, por exemplo, foi adquirida pela Abadia de Pontigny em 1186 e, nos séculos seguintes, forneceu pedras para algumas das maiores obras do patrimônio arquitetônico da França. Exemplos são o Panteão e a Nôtre-Dame, ambos em Paris, além da Catedral de Chartres. Atualmente, o que sobrou da pedreira é uma atração turística, com impressionantes cavernas.

Regras e produtores

A produção anual de vinhos da Saint-Bris AOC fica na faixa média de 8.130 hectolitros. Isso corresponde a aproximadamente 46% da produção total da área de Grand Auxerrois. Um ponto importante a destacar é o rendimento de seus vinhedos. É uma denominação com regras mais brandas em termos de rendimento, com um máximo de 68 hectolitros por hectare, que aumenta para 70 hl/ha no caso de uso da reserva técnica.

Deste modo, vale a pena analisar mais de perto os produtores. O foco deve ficar naqueles que trabalham com rendimentos mais baixos do que aqueles determinados pela AOC. Dois bons exemplos são Clotilde Davenne e Domaine Goisot, ambos produzindo excelentes vinhos das uvas brancas que tornaram esta região famosa.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; The World Atlas of Wine, Hugh Johnson

Mapas: Vins de Bourgogne

Imagem: Goisot anaelleCC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

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